Localizada na capital alemã, Berlim, a "Berliner Kindl" nasceu no ano de 1872 como uma cervejaria comunitária construída por investidores que visavam abastecer a comunidade local. Originalmente batizada de "Vereinsbrauerei Rixdorf" (algo como Associação Cervejeira de Rixdorf) - um bairro berlinense - o nome "Berliner Kindl" só viria a aparecer em 1910. Muitas outras cervejarias passariam então a ser integradas à "Berliner Kindl" que ao decorrer do século teve de atravessar os percalços de duas guerras mundiais. Em 2006 fundiu-se com a cervejaria "Schultheiss", dando origem a atual "Berliner-Kindl-Schultheiss Brauerei". Pertencente ao grupo Radeberger, hoje integra o poderoso conglomerado alimentício Oetker.
A 'Berliner Weisse' é um raro estilo de cerveja que apesar de estar sendo produzido por algumas isoladas cervejarias artesanais norte-americanas, tradicionalmente só é feito em duas cervejarias alemãs naturais de Berlim. De denominação protegida, o fato é que apenas as cervejas feitas em Berlim podem legalmente ser denominadas "Berliner Weisse'. Muito consumida na região da capital antes do advento das cervejas douradas "tipo pilsen", sua produção entrou em plena decadência a partir do final do século 19 chegando à beira da extinção no decorrer do século 20 - muito devido à expansão da industrialização a consequente popularização das cervejas ditas "comerciais". O estilo pertence à família das 'Sour Ales' (Cervejas Azedas) e tem por característica ser extremamente ácida e seca. Napoleão e suas tropas aparentemente foram bons apreciadores desse típico estilo berlinense, ao qual se referiam como "o champagne do norte". Por ser muito azeda, é costumeiro que se sirva a "Berliner Weisse" misturada com xaropes doces de framboesa ou asperula (flor da família "Rubiaceae").
BERLINER WEISSE vs HEFEWEIZEN
Apesar de ambas serem de alta fermentação e levarem na receita uma combinação de trigo e cevada, as 'Berliner Weisse' têm características drasticamente diferentes das populares cervejas de trigo originárias da região da Baviera. A principal diferença é que a "Berliner Weisse" é fermentada com uma inoculação mista de leveduras 'ale' e lactobacilos, o que resulta numa cerveja rica em ácido lático. Além disso, elas levam muito pouco lúpulo e também possuem teor alcoólico muito baixo, sendo conhecidas na Alemanha como um tipo de "Schankbier" - uma cerveja fraca.
O exemplar degustado foi adquirido recentemente em Berlim, trazido na mala por um amigo. O conteúdo já traz de fábrica uma mistura de 'Berliner Weisse' com xarope de aspérula.
Líquido translúcido de coloração verde limão. Na taça forma mediana camada de espuma branca com bolhas finas de baixa retenção. Diferente!
Aroma adocicado, permeado por notas que lembram bala de caramelo e sorvete americano. Sutil traço lático aparece ao fundo, mas o que realmente predomina é o xarope de aspérula. Um tanto artificial, acaba não agradando muito.
Felizmente na boca a sensação melhora bastante. Deliciosamente azedinha, traz expressivo dulçor açucarado, bastante xaroposo, da essência de aspérula. O sabor lembra bastante aqueles sorvetes americanos sabor limão vendidos em kombis - algo muito artificial, portanto. Mesmo assim não é ruim. Leve e pueril, possui boa 'drinkability' com um final doce rapidamente cortado pela acidez assertiva.
Quase um refrigerante, a versão com xarope perde quase todo o caráter de uma 'Berliner Weisse' em estado natural. Desse modo, ainda que interessante, ela dificilmente agradará o cervejeiro mais purista. De qualquer maneira vale para conhecer mais um aspecto da vasta tradição germânica em cervejas.