Esta kriek lambic muito peculiar é produzida adicionando-se uma quantidade insana de cerejas (400g/l) a uma lambic jovem, de apenas um ano de idade. Como resultado, os traços de Brettanomyces ainda são suaves, de modo que os aromas advindos da fruta são ressaltados e a cerveja retém uma leve doçura residual de lambic jovem, dando origem a uma fruit lambic amigável sem ser adoçada, cheia de caráter, mas não tão séria ou seca quanto os exemplares mais tradicionais. Na taça tem uma cor cereja escura, com creme que se dissipa logo mas deixa um anel perene. No nariz, uma porrada de aromas vindos da fruta: cerejas maduras, framboesa, cassis e uma tonelada de amêndoas cruas e canela-em-pau, muito vívidos e elegantes. Ao fundo, aromas animais, terrosos, de cravo e defumação são mais suaves. A acidez predomina na boca, mas nota-se uma doçura mediana na entrada, que depois vai dando espaço para um final intensamente amargo e tânico, vigoroso e estruturado. Na boca tem corpo mediano, sedoso, não tão seco quanto lambics mais tradicionais, e com uma sólida adstringência de taninos que eu adoro. Belíssima receita da Boon, não tão doce quanto a Kriek comum, nem tão seca quanto outras kriek, com uma refinada complexidade de aromas da fruta e uma pegada forte na boca. Poderia beber aos litros numa tarde de verão. Bem que a Bier&Wein poderia incorporar este rótulo ao seu portfólio...