A Nøgne Ø #100 é do estilo Strong Ale, sub-estilo English Barleywine (vinho de cevada), este caracterizado por cervejas de alta fermentação, coloração variável, robustas, em regra envelhecidas e que exalam um aroma bastante frutado de frutas secas, um característico caramelado e notas de panificação. O sabor é rico e intenso, com corpo se apresentando denso, carbonatação baixa e teor de álcool que pode chegar a 12% ABV. É um estilo cujos exemplares se prestam à guarda, a exemplo de bons vinhos. As cervejas inglesas no estilo possuem uma base de maltes mais rica, amargor terroso e um perfil mais equilibrado do que as congêneres americanas que destacam bastante o lúpulo cítrico.
Confesso que fico em dúvida se não seria uma American Barleywine, vez que apresenta boa base maltada e lúpulo evidente. Talvez o diferencial que ainda pende para a versão English seja o aroma, mais maltado e menos amargo...
É produzida pela Cervejaria Dinamarquesa Nogne Ø, cujo termo significa "naked island" (ilha nua), uma expressão poética usada por Henrik Ibsen na obra 'Terje Vigen' de 1862 para descrever qualquer uma das inúmeras ilhas estéreis que são visíveis no mar ao largo da costa sul da Noruega. O nome foi escolhido em 2002 por Gunnar Wiig e Kjetil Jikiun, dois cervejeiros caseiros que decidiram fundar uma cervejaria na cidade de Grimstad. A cervejaria destaca em suas receitas a utilização da variedade de cevada Maris Otter para produção de malte e dos lúpulos americanos Cascade, Centennial, Chinook e Columbus. No vasto portfólio merecem destaque a os rótulos Nøgne Ø #500 (IPA), aS linhaS Dark e Red Horizon (RIS), a Sunturnbrew (defumada), a Brown Ale, a God Jul (American Strong Ale) etc.
Validade: 08.06.14. A garrafa é de 500 ml, cor marrom clássico. O rótulo é minimalista na cor branco e estampa em letra garrafal o símbolo da cervejaria 'Ø' e logo abaixo o nome da breja '#100', alusivo à centésima brassagem da cervejaria. Diz-se que também seria uma comemoração pelo segundo jubileu da separação entre Suécia e Noruega ocorrido em 1905. No verso do rótulo encontra-se menção aos ingredientes, temperatura de serviço (10ºC), validade, graduação alcóolica (10%), a assinatura do mestre-cervejeiro Kjetil Jikiun e a numeração do lote (820).
Prémio: Prata no Australian International Awards Cerveja (AIBA) 2010.
Vertida na taça revelou um líquido de coloração marrom escuro, medianamente turvo, espuma marfim de bela formação e consistência, densa, com bolhas grandes e destacada manutenção. Rendas se formaram e ao girar a taça as paredes laterais do vidro ficam tomadas pelo líquido viscoso mais ou menos como bolinhas de sagú escorrendo - as tais 'lágrimas'. Perlage (bolhas) praticamente imperceptível.
O aroma desta cerveja é um deleite só! Aromático e complexo nele pode-se perceber notas de maltes torrados, caramelo, chocolate amargo, toffee, frutas secas (ameixas e uva passa), panificação, álcool bem saliente e lúpulo com notas herbais e cítricas.
No paladar o líquido se apresenta oleoso e reitera a complexidade exposta ao olfato, amplificando-a. De caráter inicialmente adocicado percebe-se na cerveja belas notas de malte torrado, caramelo, café, chocolate amargo, passas, ameixas, açucar mascavo, biscoitos e a seguir uma lupulagem acentuadamente cítrica, herbal e picante. O final se mostra amargo e persistente, creio que potencializado pela combinação dos maltes torrados com as variedades americanas do lúpulo. O retrogosto é agridoce e alcóolico. O álcool de 10,0% ABV é potente e confere um agradável aquecimento na garganta, mas é bem inserido e ajuda a lavar a boca. O corpo é médio e a carbonatação é baixa. A palatabilidade (drinkability) é muito boa e apesar da 'boca cheia' a cerveja foi fácil de beber.
Degustação prazerosa, proporcionada por um conjunto complexo, equilibrado e encorpado.