É um velho truque de pâtisserie: você põe uma pitadinha de sal na sobremesa de chocolate para potencializar o sabor do cacau e a cremosidade. E funciona maravilhosamente bem nessa imperial stout, que leva cacau, sal e pimenta chili em sua composição. Como ela tem amargor relativamente baixo diante da forte doçura achocolatada, a pimenta, bem leve, serve para equilibrar com uma leve picância ao final. O resultado lembra alguma sobremesa de inspiração mexicana. No copo, forma pouca espuma mas deixa um anel e uma névoa perenes. Os maltes torrados assaltam os sentidos com muito, mas muito chocolate ao leite e amargo, trazendo ainda caramelo em profusão, um toque defumado, castanhas, biscoito maizena e um final queimado na boca. Há frutas escuras, como figos secos e uvas passas. O aroma da pimenta vermelha é perceptível de leve, e lembra um pouco pimentão (como em alguns Cabernet Sauvignon). Infelizmente, um toque de solvente tira um pouco de sua pureza aromática. Na boca, ela é doce do começo ao fim, com amargor relativamente baixo, mas o final traz uma ardência picante para equilibrar. Ainda assim, poderia ser um pouco mais seca. O sal mal se sente, mas ele dá aquela sensação "carnuda". O corpo é grosso, mas com textura algo melada de tanto açúcar. No fim das contas, uma daquelas deliciosas cervejas-sobremesa, muito achocolatada, com a leve adição da pimenta para brincar com os sentidos. Cerveja de caráter e personalidade, como praticamente todas as De Molen que já provei até agora.