Mais uma das deliciosas idiossincrasias dos holandeses da De Molen, esta Rhythm & Blues é uma barley wine com maltes claros, ao estilo americano, mas sem a lupulagem assertiva das barley wines yankees. Além disso, é maturada em barris de carvalho para ganhar uma imensa complexidade de aromas e sabores. Surpreende quem espera uma barley wine tradicional pela cor alaranjada, com creme de pouco volume mas persistente. O aroma assoma os sentidos em verdadeiras ondas de sensações: no nariz, mostra muitas frutas, com remissões a morangos maduros, laranja madura e pitanga, além de um floral muito belga lembrando rosas e violetas. Na boca, os maltes mostram a força, lembrando um pouco o sabor de uma helles bock, com muito mel e pão-doce. O barato é que a maturação em carvalho deixa uma pegada abaunilhada bem forte no sabor, que se mistura aos maltes para passar a impressão de chocolate branco! Da madeira, ainda se nota uma certa tosta (como o aroma de café que se sente em alguns vinhos tintos), noz-moscada, resina, um pouco de borracha queimada e até um toquezinho acético. Ela entra intensamente doce na boca, com uma sensação muito encorpada e cremosa, mas no final se sente um amargor equilibrando todo esse doce. O aquecimento é bem comportado para os 10% de álcool. A mistura do sabor de chocolate branco, frutas, a cremosidade, a doçura, tudo isso me remeteu a fondue de chocolate branco, de uma forma bem agradável. A madeira poderia ter sido um pouco menos rude (a borracha queimada começou a me incomodar um pouco com o tempo), mas, no geral, é uma cerveja muito interessante, complexa e marcante, que testemunha o sucesso da criatividade desses holandeses. Pena que o preço, no Brasil, não é nada convidativo.