Antes, um convite: Pra dar mais sabor ao ler a resenha dessa breja, o leitor deve ler (e assistir ao filme) a postagem no Blog onde conto a história e a minha visita à Brooklyn Brewery, de Nova York, capitaneada pelo mestre cervejeiro e guru Garret Oliver, que vem ajudando a criar a nova escola cervejeira americana.
Pois foi nessa visita que, no bar da cervejaria, fui apresentado à Brooklyn Intensified Coffee Stout, breja no estilo imperial stout que a cervejaria coloca na categoria de “reserva especial do mestre cervejeiro” e, nessa condição, só está disponível on tap na própria Brooklyn Brewery ou em alguns poucos bares de Nova York. O nome já diz muito: café intenso. Mas não diz tudo.
Além dos maltes Chocolate, Black Barley e British Pale Ale, a breja leva também grãos de café da beneficiadora Stumptown Coffee Roasters, de Portland. O resultado é uma cerveja profundamente negra, de textura aveludada e oleosa, mas com pouca formação de creme. No aroma e no paladar (surpresa!), o café predomina e até, por excesso, agride um tantinho. Mas o degustador atento também perceberá outras sugestões sensoriais, como malte torrado, chocolate amargo, caramelo e um discreto — mas presente — lúpulo. A carbonatação é alta, inusual pra uma cerveja típica do estilo. O final, como não poderia deixar de ser, é torrado, mas também seco, remetendo a uma dry stout.
Pra dar uma idéia realista ao leitor, imagine a nossa premiada Colorado Demoiselle. Imaginou? Pois adicione uma colherinha de café nela e você chegará na Brooklyn Intensified Coffee Stout, a breja mais “cafeinada” que já provei até agora.
E, pra complementar, um pouco de história.
Pode parecer estranho à primeira vista, mas o certo é que o café sempre esteve intrinsecamente ligado à história das modernas brejas escuras, mais especialmente as dos estilo stout e porter. Até os anos 1700, para se fazer uma breja escura, os maltes precisavam ser defumados em madeira já previamente queimada — o que deu origem às cervejas defumadas do estilo rauchbier. Mais tarde, a indústria cervejeira aproveitou-se do advento das novas técnicas de torrefação do café para torrar também o malte cervejeiro, que possibilitou que as brejas elaboradas com esse método não apresentassem tantas percepções defumadas, e sim de café e chocolate.