Dando sequência à coleção Rogue Voodoo Doughnut, série de cervejas resultantes da fusão colaborativa entre a Cervejaria Rogue e a criativa donut store Voodoo Doughnut, eis que agora me deparo com uma criação inspirada no sabor de donut entitulado "Memphis Mafia", que une pasta de amendoim, chocolate e banana. Diz a lenda que essa combinação seria muito apreciada e popularizada por Elvis Presley, que era da cidade de Memphis.
OBS: Minha unidade foi adquirida em 2013 e deixada em guarda. Resolvi degustar ela cerca de 1 ano após a validade indicada no selo de importação (julho/2014).
Servida em taça, sua aparência é bastante escura e robusta, como se fosse uma Porter/Stout. Sua coloração é negra ou um rubi muitíssimo escuro. Traz alguns veios de eferescência, mas sem sedimentos. Absolutamente opaca. Forma uma camada média de espuma bege, cremosa e consistente, que assenta bem lentamente sobre o líquido, sem sumir por completo jamais. Deixa alguns rastros de lacing aderidos.
Seu aroma é bem potente e transparece o sabor do donut logo de cara, com muito chocolate e muita pasta de amendoim (peanut butter). Traz uma sensação bem elevada de banana, que lembra mais tutti-frutti ou chiclete/confeito artificial (ésteres doces). Realmente, extremamente fiel ao sabor de um donut confeitado. Outras sensações mais triviais ficam bastante ocultadas e exigem que se force o nariz. Assim dá para se conseguir notas de panificação, biscoito, toffee/café, castanhas/nozes, algum defumado, canela, açúcar mascavo, baunilha, frutas escuras. Nada muito além disso, nada muito nítido. Off-flavors nulos. Buquê extremamente excêntrico, artificial, enjoativo, com foco total no donut e seus sabores/recheios, de certo modo, unidimensional (só exibe o adjunto) e sem demonstrar lúpulo. Lembra uma Sweet Stout. Recomenda-se deixar a garrafa um pouco aberta antes de consumir para eliminar o excesso de aromas de donut presentes.
Na boca, o gole não traz a bagunça exibida no aroma, se mostrando mais rasa, mais simplória, mais equilibrada e mais harmoniosa. Claro que ainda continua o sabor do donut (da banana e do confeito/M&M's), mas bem menos contundente. Traz algum (bem-vindo) amargor tostado, ainda com nuances de chocolate adjunto (ao leite). Aliás, um tanto quanto láctica. Contraste interessante entre dulçor e amargor, com pontadas salgadas e defumadas. Apesar de alguma sensação de condimentos, ainda falta complexidade para esse gole. Retrogosto muito saboroso (!), duradouro, sensivelmente queimado e defumado, seco, remetendo a café/chocolate, torra, casca de pão, toffee. Cerveja de corpo leve, pouco sedoso, mais aguada do que o esperado. Carbonatação alta, com muita crocância, conferindo frescor. Álcool absolutamente discreto, não notável. Drinkability até que razoavelmente boa. Se você esperar o excesso de donut dissipar ou se seu paladar se acostumar com ele, a cerveja não pesa, vira um Stout mediana e se torna uma Session Beer com certo charme. Mas dá trabalho.
A impressão geral poderia ser melhor. A Bacon Maple Ale me desceu muito melhor do que essa. Esse sabor Chocolate, Peanut Butter & Banana Ale seria facilmente emulado por uma Sweet Stout ordinária com adição de banana. Muita artificialidade. A cerveja não é nem tão doce assim, mas é enjoativa (tomar os 750ml foi uma tarefa bem demorada). Porém, o retrogosto salva um pouco o conjunto. E depois de toda aquela batelada do aroma, até que o paladar não é tão destratante. Mas peca em corpo, em carbonatação, em drinkability, em caráter. Enfim, vale pela curiosidade, pelo experimento, mas certamente é um rótulo que não resultou tão bem calibrado. Felizmente, foi uma edição especial rotativa. Espera-se que melhore futuramente.
