Esta Mikkeller 19 é do estilo Índia Pale Ale, sub-estilo American IPA, que caracteriza cervejas de alta fermentação, com bastante lúpulo, coloração até o cobre na paleta de cores e que se revelam intensas e refrescantes. Historicamente eram cervejas Pale Ale inglesas com uma graduação alcoólica e uma lupulagem maiores para que se conservassem durante as viagens rumo à colônia. As versões americanas para o estilo geralmente carregam ainda mais no lúpulo, dada a paixão pelo amargor da bela planta trepadeira. Apresentam-se ainda com boa carbonatação e com um corpo médio-leve, aromas cítricos e florais provenientes de variedades americanas de lúpulos. Muitos rótulos passam pelo método dry-hopping para intensificar o aroma do lúpulo.
Pesquisando descobri que a receita leva água, malte (pilsner, Munique e cara - crystal), flocos de aveia, lúpulo e levedura. Mas estou em dúvida se trata-se de uma brassagem única, com os referidos percentuais das citadas 19 (dezenove) variedades de lúpulo, ou se trata-se de um ‘blend’ das cervejas que levam os lúpulos individuais nas respectivas receitas (‘hop series’). De qualquer modo foi produzida nas instalações da cervejaria belga De Proef.
É cria da Cervejaria Mikkeller, fundada em 2006 na cidade de Copenhagen/Dinamarca por Mikkel Borg Bjergsø, então professor do ensino médio de matemática e física, e pelo jornalista Kristian Klarup Kellercujo. A produção das cervejas Mikkeller, exportada para mais de 40 países, se dá de forma nômade, utilizando as instalações de outras cervejarias o que acaba por divulgá-las e avalizá-las, além de economizar o dinheiro que corresponderia à montagem de instalações próprias. Há ainda bares Mikkeller em Copenhagen, Estocolmo, San Francisco e Bangkok. O portfólio é vastíssimo, com cervejas especiais (brassagem única), sazonais, comemorativas e continuadas. Este é o terceiro rótulo que degusto, mas tenho na adega algumas joias: Beer Geek Brunch, ‘X’ Imperial Stout, Black Hole, George, linha Forêt, Nelson Sauvin, Cù’t Cà Phê Bia e outros.
Validade é 13/03/2014. A garrafa é de 330 ml, cor marrom, tampa branca. O rótulo se apresenta multicolorido com desenhos que lembram a flor de lúpulo. No contra-rótulo menção à graduação alcoólica (ABV 6,8%), recomendação para manter em local escuro e fresco e as percentagens de variedades de lúpulo (tal como no descritivo do Brejas).
Vertida na taça revelou-se um líquido de coloração âmbar com mediana turbidez e que ostentou espuma branca de satisfatórias formação, consistência e manutenção; algumas rendas escorreram pela taça e um anel de creme restou perene ao longo da degustação. Perlage (bolhas) perceptível.
O aroma se revela bastante saliente e agradável, com bom equilíbrio entre adocicado e amargor. Imaginei que se trataria de uma bomba lupulada, mas o equilíbrio me surpreendeu. Foram percebidas notas de malte caramelo, pão, mel e um indiscutível festival de lúpulos com sensações de frutas cítricas, floral, herbal e pinho. O álcool é perceptível, mas suave.
No paladar o líquido se apresenta com uma textura aveludada e com ótimo equilíbrio malte/lúpulo. Inicialmente há um característico adocicado de malte caramelizado, seguido de mel e pão; na sequencia assoma-se à boca uma considerável carga de lúpulos de caráter cítrico, herbal, floral e pinho, mas de tal forma harmônica e inesperada que fiquei um tanto incrédulo a saborear as várias sensações proporcionadas por esse festival de variedades de lúpulo. O final é amargo e seco e o retrogosto é amargo, mas sem ser agressivo. O álcool de ABV 6,8% é notado, mas vem bem inserido e harmoniza o conjunto. O corpo e a carbonatação são médios. A palatabilidade (drinkability) é excepcional, bebe-se fácil!
Conjunto primoroso! Gostaria muito de repetir, mas creio que era uma raridade difícil de conseguir.