Esta Evil Twin Aún Más Café Jesús é do estilo Stout, sub-estilo Russian Imperial Stout, este caracterizador de cervejas de alta fermentação, geralmente com pouco gás e bastante álcool, forte sabor de chocolate, café e maltes torrados, coloração muito escura e grande complexidade tanto no aroma quanto no sabor, com frutado e amargor salientes. A história do estilo remonta ao século XVIII época em que a Corte Imperial da Rússia teria viajado a Londres e, tendo gostado das Stouts locais, encomendou barris daquela cerveja. Entretanto, a longa viagem através do mar Báltico terminava por estragar a cerveja. A solução foi desenvolver uma stout robusta e alcoólica o suficiente para suportar a viagem, preservando a cerveja e impedindo que ela congelasse. Esse tipo de stout foi batizada de Russian Imperial Stout, ou simplesmente Imperial Stout.
É produzida pela Brewing Evil Twin, instalada na cidade de Copenhagen/Dinamarca. Sua história recente remonta ao ano de 2010, tendo sido fundada por Jeppe Jarnit-Bjergsø (irmão de Mikkel Borg Bjergsø, da Mikkeller). Jeppe, então professor de Física e Inglés, já era dono do famosíssimo bar/loja Ølbutikken (aberto em 2005). Após a abertura da cervejaria vem seguindo os passos nômades do irmão brassando suas obras de arte em cervejarias mundo afora. O portfólio é vasto e este é o primeiro rótulo que degusto.
Lote ???; validade ???; vintage 2013. A garrafa é de 355 ml, cor marrom, tampa preta e o rótulo (versão de exportação para os EUA) é exatamente este que vem ilustrado pelo Brejas, com menção à adição de café. No contra-rótulo, além da informação de que a cerveja foi brassada na Companyia Cervesera del Montseny, Espanha, há o seguinte texto:
- 'On a pilgrimage for immortal craft beer we tripped on these heavenly coffee beans - threw them in and created damn good aromas, a thick fudge-like body, pitch black color and obviously only made it in limited amounts. And the taste.... furthermore jesus!'
Vertida na taça revelou um líquido de coloração negra, opaco e não translúcido, com espuma de cor marrom de expressivas formação e consistência, com bolhas médias e de manutenção persistente. Rendas se formaram e ao girar a taça as paredes laterais do vidro ficam tomadas pelo líquido viscoso mais ou menos como bolinhas de sagu escorrendo - as tais 'lágrimas'. Perlage (bolhas) praticamente imperceptível.
Degustada por volta dos 10 - 12ºC devo registrar que o aroma desta cerveja foi evoluindo à medida em que a temperatura aumentava, revelando pouco a pouco uma intensidade e uma complexidade mais acentuadas que aquelas de pronto percebidas. De perfil agridoce descortinou notas salientes de maltes torrados com percepções de chocolate amargo, café, baunilha, melado, além de frutado de ameixas, lúpulo herbal saliente e álcool mais pronunciado.
No paladar o líquido se revela muito viscoso e cremoso. De caráter complexo e equilibrado ostenta uma entrada adocicada e pode-se perceber intensas notas de torrefação, cujos maltes denotam notas de café, chocolate amargo, cacau, açúcar mascavo e baunilha. Há também frutado de ameixas e um considerável lúpulo herbal que acompanha a degustação, mas sem aspereza, ainda que potencializado pelo amargor inerente à torrefação. Não percebi alcatrão, comum em outras RIS (Emelisse e Struise Kabert). O álcool de ABV 12% é potente e bem perceptível, aquecendo agradavelmente a garganta. O final se apresenta levemente seco e agridoce. Retrogosto torrado, alcoólico e persistente. A carbonatação é média-baixa e o corpo é denso. A potabilidade é ótima e em que pese a robustez do exemplar, com parcimônia bebe-se fácil.
Degustação prazerosa, fruto de uma cerveja forte, equilibrada e complexa. Não é a toa que muitos tem a RIS como seu estilo predileto.