Que brilhante cerveja desses canadenses. Essa cervejaria só tem cerveja boa. Essa Baltic Porter é uma das melhores cervejas que já tomei na minha vida, me deixado entusiasmado para provar outras do estilo e outras da cervejaria. Possui complexidade e equilíbrio, pouco visto por aí, e seu perfil não tão torrado, deixa em evidência toda a complexidade que a cerveja pode mostrar, sendo assim, uma experiência tão prazerosa quanto ver uma ótima orquestra sinfônica, ou uma jam de jazzistas, improvisando infinitamente sem se tornar aquela coisa enjoativa.
A cor dessa cerveja é marrom, com vários tons de intensidade, bem vibrante, com boa formação de um creme marrom de tom um pouco mais claro, e que se mantêm razoavelmente na taça.
O aroma traz agradáveis notas achocolatadas de forma muito intenso. Pouco mais atrás notas de café, uísque e caramelo. Ainda de forma terciária é possível sentir breves notas de defumado e licor de cerejas, além de um contraste perfeito de flores.
Eu achava que o aroma já tinha se saído muito bem, mal sabia o que me esperava quando ela chegasse a boca. A complexidade e a intensidade mandam por aqui, mas de maneira magistral. As notas de licor de chocolate e cerejas vão regendo sabores secundários com muita propriedade.
Sabores esses que nos sugerem uma diversidade de sensações passando desde notas de baunilha, uvas-passas, ameixas, caramelo, nozes, até chegar a timbres mais pesados de uísque, vinho do porto e café.
Mais a frente no tema, uma mudança rítmica um pouco inesperada, mas muito bem encaixada, apenas como os sábios compositores sabem como fazer. Quem aparece aqui são notas de coco queimado, com um pouquinho de açúcar mascavo e para dar mais peso muitas especiarias (cravo, anis, canela e talvez noz-moscada)
Ao final o lúpulo aparece como solista, tendo seu curto momento de fama. As últimas notas são executadas por maltes torrados, mas especificamente por um residual doce de chocolate ao leite e amargo de café. As notas leitosas vão acompanhando o tema de maneira secundária, mesmo que a todo instante, não roubando a cena dos outros musicistas e sim dando riqueza a essa obra de arte.
O álcool é outro coadjuvante que não faz questão nenhuma de tomar o lugar de ninguém, mas mostra-se um músico preciso que cumpre com perfeição o que devia fazer: esquentar o público, mas sem causar alvoroço. Há uma fraca presença de dióxido de carbono, que é discreto como deveria.
Apesar de ser uma cerveja bem alcoólica e com um caráter doce, a drinkabillity é relativamente alta. Se estiver no Canadá e tiver tempo e oportunidade de provar esta cerveja, não pense duas vezes, pois garanto que é uma das melhores que o país tem a oferecer.