A De Bora Extreme, na expressão criada pelo compositor João Lopes, é "Bicho do Paraná" assim como este simplório apreciador. É do estilo Strong Ale, sub-estilo English Barleywine (vinho de cevada), este caracterizado por cervejas de alta fermentação, coloração variável, robustas, em regra envelhecidas e que exalam um aroma bastante frutado de frutas secas, um característico caramelado e notas de panificação. O sabor é rico e intenso, com corpo se apresentando denso, carbonatação baixa e teor de álcool que pode chegar a 12% ABV. É um estilo cujos exemplares se prestam à guarda, a exemplo de bons vinhos. As cervejas inglesas no estilo possuem uma base de maltes mais rica, amargor terroso e um perfil mais equilibrado do que as congêneres americanas que destacam bastante o lúpulo cítrico.
É produzida na Cervejaria Bodebrown, sob supervisão do criador o querido Edygil Pupo (engenheiro, fazendeiro e um dos cervejeiros de panela pioneiros no PR). A De Bora Bier está instalada na cidade de Imbituva/PR (conhecida como a cidade das malhas) e a história da cervejaria remonta ao final de 2008 ocasião em que saiu vencedora do III Concurso Nacional de Cerveja Artesanal em Belo Horizonte com a Poderosa IPA, sendo ainda finalista no II Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn com a Robust Porter. No portfólio, além das citadas, merecem destaque a a Dika Bock, a Kéia Hefen-Weiss e outras mais.
A cerveja vem numa garrafa de 300ml, lote 01 - validade 2014, e ostenta um criativo rótulo com a gravura de uma mulher manuseando um pilão, plantas de lúpulo e cachos de cevada. O nome, conforme declarado pelo próprio Edygil, homenageia a alemã Catarina Von Bora. Catarina, esposa do Reformista Martinho Lutero, foi uma mulher fantástica (a história dela está pela internet) e era cervejeira.
Em tempo, esta De Bora foi apresentada ao grande público no dia 21.07.2012, em Curitiba, por ocasião do DumDay II (comemoração do 2º aniversário da Cervejaria Dum) e foi carinhosamente batizada pelo Edygil de 'Extreme Marvada'. Trata-se de um blend de 30% de cerveja maturada por 6 meses em barril de carvalho europeu que antes abrigou a cachaça Porto Morretes e 70% de cerveja maturada durante um ano em inox. Por oportuno, Morretes é cidade histórica do Litoral do Paraná.
Vertida na taça revelou um líquido de coloração acastanhada (cor de achocolatado em água também serve), com bastante turbidez, espuma de cor bege de discreta formação, mas consistente e de destacada manutenção. Ao girá-la na taça percebe-se certa viscosidade do líquido e as paredes laterais do vidro ficam tomadas pela espuma por um curto período. Perlage (bolhas) praticamente imperceptível.
O aroma desta cerveja se mostrou acentuadamente pronunciado, complexo e de perfil adocicado. Foram percebidas intensas notas maltadas com nuances de caramelo, além de frutas secas, melaço/mel, lúpulo herbal discreto e álcool saliente, mas agradável, que lembra um licor ou até mesmo whisky.
No paladar o líquido licoroso traz uma forte base maltada que denota um perfil bem adocicado, quase excessivo. As impressões olfativas reverberam com mais intensidade e complexidade e caramelo, melaço e álcool dão o tom na língua, revelando uma picância e um aquecimento após o gole. O lúpulo vem acanhado, mas é percebido em tons herbais no final da degustação. O retrogosto é adocicado e alcoólico. O corpo é alto e a carbonatação é baixa. O álcool de ABV 10,9% é bruto, mas está dentro do estilo e vem ao encontro da proposta 'Extreme'. A drinkability exige paciência e reflexão!
Degustação prazerosa, fruto de um conjunto robusto, equilibrado e de excelente complexidade. Em minha opinião esta potente 'Marvada' é o melhor rótulo da De Bora. E em que pese deva ser bebida com parcimônia não tenho dúvidas de que é uma cerveja marcante.