Mais uma das pérolas da Wäls, a Trippel combina admiravelmente bem os aromas frutados e florais com um paladar picante de muita personalidade. Transparência e creme impecáveis, com aroma em que predomina o floral de lúpulo (lembra varietais nobres alemãs) e os frutados doces (abacaxi marcante, maçã e banana mais sutis, um toque de laranja). Não carrega muito nas sementes de coentro típicas do estilo, mas pensei ter sentido um toque de anis, e talvez use pimenta para acentuar a forte picância. O malte é limpo e traz leve mel. O álcool se faz perceber generosamente (talvez mais do que deveria), misturando-se aos perfumes florais para dar uma sensação de gim no fundo da boca. Apresenta-se razoavelmente seca - a receita era bem mais doce antigamente e foi ficando progressivamente mais seca e elegante - e bastante picante, com amargor destacado e doçura suave. O corpo é mediano, na medida. No geral, penso que se trata talvez da tripel mais interessante produzida no Brasil. Destaco o contraste entre o aroma doce e frutado, por um lado, e o paladar seco e picante - talvez até em exagero -, por outro. Adoraria ver como essa belezinha se comportaria com um ou dois aninhos de guarda.