Equilibrando poderosamente a virtuose dos maltes e da levedura, a cerveja de páscoa da Gouden Carolus tem ótima complexidade e vigor, com perfil licoroso, vinificado e maravilhosamente torrado na medida. Diferentemente da degustação dos confrades,
a edição que tive a oportunidade de degustar, oportunamente envelhecida, apresentou características de uma dark strong ale; mas mostrou-se também extraordinária.
Na taça, ostentou uma cor castanha muito opaca e aparência "grossa", tênues reflexos avermelhados e creme bege de pouco volume e persistência (possivelmente devido ao envelhecimento). O aroma desprendeu maravilhosamente e encheu a sala de ésteres: vinho do porto e ameixas passas são marcantes, com chocolate, licor de cerejas (sugerindo um bombom de cherry brandy) e figos ramy. Na boca, evolui impecavelmente: a entrada fortemente adocicada tem ares de licor, repetindo as notas do aroma e adicionando uma sugestão levemente condimentada de canela. No fundo, torna-se amarga, com chocolate do malte e lúpulo amadeirado em boa harmonia. Finalização longuíssima em camadas: doce-amarga e crescentemente terrosa, começa com retrogosto de vinho do porto, seguido primeiro de um sabor terroso e seco, e depois de um sabor de grãos de café torrados muito suave e vívido, que preenche e perfuma toda a boca. No inevitável novo gole, a entrada licorosa quebra o residual torrado de uma maneira muito interessante. Paladar intenso, com doçura e amargor ao mesmo tempo pronunciados e equilibrados, com leve predomínio do doce. Muito encorpada, com textura licorosa e terrosa, "pulverizada" (dá uma sensação de partículas grossas em suspensão).
É possível notar seu parentesco com a Gouden Carolus Classic (o malte achocolatado, os ésteres de cerejas etc.), mas esta versão passou por uma uma notável evolução, resultando num conjunto de complexidade e vigor impressionantes. Torrefação dos maltes na medida exata, macia e gentil sem agredir, mas vigorosa e saborosa, para provar que uma cerveja torrada não precisa ter nenhuma lembrança de gosto de queimado. Lúpulo em segundo plano, dando espaço à "briga de titãs" entre os maltes e a levedura. Por suas características de torrefação e seu caráter licoroso, deve se prestar a harmonizações poderosas com chocolate - não há de ser à toa que é uma cerveja de páscoa! Uma das melhores que já pude provar, sem dúvida.