Quem disse que não existe inovação no mundo das tradicionais lambics? Imagine um cruzamento entre uma gueuze e uma IPA, e você terá esta sensacional Cuvée Saint-Gilloise produzida pela Cantillon. A cerveja é feita de forma semelhante a uma fruit lambic; só que, em vez de frutas, ela recebe a adição de lúpulo fresco no barril, da variedade alemã Hallertauer, num longo dry-hopping que dura três semanas. Tem coloração amarela escura, com turbidez (hop haze) e uma bela espuma. No aroma, as características lupuladas saltam ao nariz, com muito herbal, cítrico, frutado e floral. Sente-se hortelã, raspas de limão, tutti-frutti, rosas e algum apimentado, muito elegante e refinado. As características da lambic aparecem na sequência, mais rústicas, trazendo animal, couro cru, mostarda, mofo, limão e uvas verdes. Na boca sente-se o equilíbrio entre o amargor (que é de lúpulo e não de taninos, neste caso) e a acidez, esta predominando levemente no ataque, conduzindo a um amargor final mais acentuado. Quase não há doçura nenhuma, ela é completamente seca, valorizando sua elegância e drinkability. O corpo é levíssimo, tornando-a inusitadamente fácil de beber e refrescante, mas sente-se a adstringência dos taninos na boca. O resultado do experimento, em suma, é uma lambic muito refrescante, leve, mas de forte personalidade, que combina o frescor do lúpulo e a rusticidade de uma lambic com impecável harmonia.