Esta Bayerischer Bahnhof é do estilo Sour Ale, sub-estilo Berliner Weisse, este caracterizador de cervejas de trigo que passam por fermentação espontânea (láctica) produzidas no Norte da Alemanha. Estilo raro trata-se de especialidade de Berlim, conhecida desde os anos 1600, e que teria sido chamada de “A Champanhe do Norte” por Napolão Bonaparte em 1809 (Guerras Napoleônicas). Curiosamente o estilo teria surgido na cidade de Hamburgo. De coloração clara (dourada, amarelo palha etc) e colarinho generoso, mas fugaz, apresenta aroma e sabor dominados por salgado, trigo, frutado cítrico, acidez expressiva (menos que uma lambic) e baixo amargor. O corpo é leve, a carbonatação é elevada e o final é bastante seco, e, aliado ao baixo teor alcoólico, se apresenta extremamente refrescante. Não se presta à guarda e pode ser degustada ao natural ou, para atenuar a acidez, com a adição de xarope de frutas (Himbeersaft) ou de ervas (Waldmeistersaft).
É produzida por Gasthaus & Gosebrauerei Bayerischer Bahnhof nas instalações onde outrora funcionou a antiga estação ferroviária Bayerischer Bahnhof, fundada em 1842 e parcialmente destruída durante a Segunda Guerra. Diz-se que era a mais antiga estação ferroviária do mundo. Restaurados os prédios em 19 de julho de 2000 foi transformada em restaurante de comida tradicional alemã, pousada e cervejaria e está instalada na cidade de Leipzig (190 km de Berlim), sendo propriedade de Thomas Schneider. Para consumo local a cervejaria produz sua especialidade - Gose (ácido láctico, coentro e sal), a Schaffner (Pils), a Kuppler (cerveja de trigo escura), a Heizer (lager escura). Já com vistas ao mercado norte americano o portfólio é vasto, incluindo esta Berliner Weisse.
Vintage 2013 - validade ???. A garrafa é de 330 ml, cor marrom, tampa prata. O rótulo se apresenta na cor amarelo e traz em letras grandes e brancas o nome do estilo, além do nome da cervejaria, graduação alcoólica (ABV 3%) e a expressão 'Brewed in the tradition of the "Berliner Style" Weisse'. No gargalo se visualiza uma locomotiva cuja chaminé é uma taça cheia de cerveja. No contra-rótulo vislumbram-se as informações comuns ao mercado norte americano. Segundo a cervejaria a receita leva 55% de malte de trigo e 45% de malte pilsner, além de lúpulo da variedade Hellertau Perle cultivado na região alemã de Elbe-Saale-Gebiet, levedura Ale e bactérias lácticas (Lactobacillus delbruckii). Por fim, matura por 3 semanas. Curiosidade: há uma versão (Berliner Weisse with Brett) que leva na receita Brettanomyces Lambicus, responsáveis por aromas animais (curral, couro cru, cobertor de cavalo etc).
Vertida na taça o líquido revelou uma coloração amarelo palha, levemente opaca e com boa translucidez. A espuma de cor branca formou-se de modo abundante, como boas consistência e densidade e bolhas pequenas no topo. A manutenção é curta, devido à alta acidez. Perlage (bolhas) numerosa e pequeninas.
O aroma se apresenta com boa intensidade, sobressaindo azedume moderado e frutado cítrico de maça e casca de limão. Percebe-se ainda malte de trigo e leveduras. O diminuto amargor de lúpulo restou subjugado pela acidez, não percebi aromas animais e o álcool também não foi notado.
No paladar o líquido amplifica as sensações olfativas, restando mais perceptível, mas não extrema, a acidez láctica e o frutado cítrico de casca de limão e maçã. A base maltada não se impõe, mas se percebe malte de trigo além de leveduras e salgado. O final se apresenta seco e picante. O retrogosto é ácido e adstringente. O álcool de ABV 3,0% é mínimo e passa despercebido. De caráter efervescente e picante apresentou corpo leve e carbonatação elevada. A drinkability é excelente, bebe-se fácil e é uma ótima pedida para dias quentes.
O conjunto se mostrou bastante refrescante e a inusitada combinação ácido/cítrico/salgado agradou geral aqui em casa, sendo degustada ao natural e sem adereços (xaropes). Foi o primeiro exemplar do estilo Berliner Weisse que degustei.