O sabor da breja é salgado, e não por acaso: a ela é adicionada uma quantidade de sal. Ao mesmo tempo, é também azedo, obra da adição de bactérias lácticas após a fervura do mosto. Os aromas e amargores do lúpulo são pouco perceptíveis. É elaborada com pelo menos 50% de malte de trigo, e não é filtrada. Seu teor alcoólico varia entre 4% e 5% ABV. Esse é um dos únicos três rótulos ainda fabricados no mundo – em diminuta escala. Há ainda quem goste de misturar a breja a doses de kümmel, um aguardente de cominho. Está-se falando do estilo gose, um tipo muito raro de cervejas ale, que sequer é mencionado no BJCP, o guia de estilos de cerveja mais comumente utilizado.
Goslar é uma pequena cidade do norte da Alemanha mais famosa por ter sido, em 1123, o lar do imperador Friedrich I, o Barba-Ruiva. Ostenta a maior concentração de casas antigas em estilo enxaimel do país. Foi lá, a partir do seu nome, que no século 18 a gose foi brassada pela primeira vez, tornando-se popular também em Leipzig onde, até o final dos anos 1800, foram fundadas várias cervejarias. Diz-se que o escritor Goethe, em suas visitas à cidade, esbaldava-se da breja.
Inicialmente, a gose (não confundir com gueuze, outro estilo de cervejas não menos “esquisito”) era fermentada espontaneamente, com leveduras selvagens trazidas pelo ar, a exemplo das lambic belgas. Já no século 19, esse método foi abandonado com o uso de fermentos e bactérias lácticas na intenção de produzir o mesmo efeito. Por utilizar o sal e o coentro em sua receita, a gose é uma das poucas brejas alemãs a não seguir a Lei de Pureza da Baviera (Reinheitsgebot), uma vez que é considerada uma “especialidade regional”.
Até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a cervejaria Rittergutsbrauerei, na cidade de Dölnitz, era única ainda em funcionamento a produzir a breja. Quando, em 1945, foi nacionalizada e fechada, a gose desapareceu do mapa. Nos anos seguintes o estilo ainda ensaiou algumas aparições na Alemanha, mas sem emplacar.
Foi somente em 1980 que um certo Lothar Goldhahn, que estava restaurando um antigo gosenschenke (bar especializado em servir a gose), decidiu reviver a variedade. Começou então a procurar, inicialmente sem sucesso, por cervejarias da região que se dispusessem a fabricar o estilo esquecido. Graças a Lothar, hoje há três cervejarias que ainda produzem a gose. Uma delas, a Brauhaus Goslar, ainda funciona, modesta e artesanalmente, na pequena e linda Goslar, onde tudo começou.
Já esta Leipziger Gose, na aparência, lembra bastante a witbier, tanto na coloração amarelo-clara turva quanto no creme medianamente denso e persistente.
O aroma é bastante frutado, logo aparecendo o coentro. Há ainda notas adocicadas, leve acidez láctica, além de um frutado evidente que lembra o abacaxi.
No sabor é onde o sal aparece, mas sem a agressividade que a fama do estilo faz supor. Mas a predominância mesmo é da acidez, além do coentro residual.
Por vários aspectos, a breja lembra as lambics (de fermentação espontânea). A acidez láctica acompanha toda a degustação, além da alta carbonatação.
Valeu a experiência em degustar esse "fóssil" cervejeiro!