Brugge e o Enigma

O ano era 2004. A cidade, Brugge, na Bélgica. Numa noite chuvosa, os confrades Cuca, Xu, Guiba, Mau e Miga estavam reunidos no Staminee de Garre, saboreando uma rodada de Lambics, enquanto que, numa mesa próxima, cerca de oito barulhentos gringos se divertiam, participando de uma espécie de gincana.

Pelo que se podia perceber, a brincadeira era mais ou menos assim: algum deles dizia uma palavra, ou uma charada, e os demais tinham de buscar a resposta. Se não sabiam, podiam perguntar. Havia uma disputa entre eles. Era evidente.

Num dado momento, notamos uma certa desolação daqueles que, naquela rodada, tinham o encargo de responder ao enigma. Ao que parecia, a resposta deveria ser algo impossível... Eram vários em busca da solução. Sentado à mesa, o autor da charada duvidava que alguém pudesse acertar a resposta. Entre um gole e outro, ele visivelmente se mostrava certo da vitória.

Enquanto isso, seus amigos, os participantes, começavam a pedir ajuda de mesa em mesa, mas notávamos que era completamente em vão. As pessoas balançavam a cabeça, como se dissessem "não sei" ou "não faço a menor idéia" ou, ainda, "essa é difícel, hein?".

Mas aí ocorreu o inesperado... Nem o mais otimista participante daquela brincadeira poderia imaginar que a tão inalcançável resposta para o enigma estava bem ali ao lado, naquela mesa repleta de brazucas...

Após percorrer diversas mesas, um dos participantes, já "entregando os pontos", chegou a nós e, apenas para cumprir tabela, nos questionou: "Com licença, estou participando de uma brincadeira e preciso saber quem diabos é Édson Arantes do Nascimento. Vocês conhecem?"

Fizemos silêncio, olhamos uns para os outros e soltamos aquela gargalhada... Inacreditável! Com uma só palavra, como se a pergunta fosse a mais óbvia do mundo e aqueles gringos fossem um bando de alienígenas, repondemos: "Pelé".

O moleque saiu vazado, num pinote entre as mesas e, triunfante, levou a resposta ao seu inquiridor, que parecia não acreditar no que ouvia...

A algazarra se formou entre eles, e o bar inteiro olhou para a nossa mesa, tentando imaginar quão sábios éramos.

Mas, como nossa brincadeira era outra, chamamos o garçom e pedimos: "Mais cinco, por favor."



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