No último dia 7 de abril os correspondentes de BREJAS atravessaram a região ao norte da Antuérpia para ver de perto a famosa, mas discreta abadia que produz uma reputada cerveja artesanal belga. Passamos por lugares prósperos, vimos belas fazendas e bonitas casas no pequeno, limpo e organizado vilarejo de Westmalle e localizamos a abadia rodeada por fazendas após exuberante ruela de grandes árvores enfileiradas.
Os monges trapistas da abadia de Notre-Dame du Sacré-Cœur de Westmalle começaram a fabricar cervejas já no século XIX. Em 1836 foi construída no interior da abadia a primeira sala de trabalho adaptada para a fabricação de suas próprias cervejas artesanais. 20 anos mais tarde os monges se confrontaram com o interesse crescente pelas suas cervejas e começaram a vender algumas caixas nos portões da abadia. Com o aumento da procura destas cervejas no final do século XIX as instalações passaram por reformas e foram modernizadas para atender as encomendas e manter a qualidade de seus produtos. Mas foi a partir de 1920 que negociantes apareceram e expandiram a comercialização das cervejas, que começou a ser distribuida para outras regiões, exigindo nova evolução.
O sucesso das cervejas Westmalle atravessou o século e a abadia continuou renovando suas instalações e hoje sua cervejaria é automatizada e computadorizada, o que permite produzir em maior escala os estilos de cervejas fabricados. São eles: a Tripel e a Dubbel. Um terceiro estilo chamado L‘Extra de Westmalle é fabricado exclusivamente para consumo interno do monastério e não é permitida sua comercialização.
A Tripel Westmalle é considerada a “mãe de todas as tripels” pois é um clássico referencial do estilo, que caracteriza cervejas claras de alta fermentação e bem alcoólicas. Essa trapista dourada clara é refermentada na garrafa durante três semanas o que ajuda a produzir finalmente os seus 9,5% de volume alcoólico. Complexa, exala um aroma frutado com perfume de lúpulos pronunciado. Na boca, chega refinada com o amargor sustentado pelo gosto frutado e levemente adocicado pelo malte, com final longo e saboroso. Foi fabricada a primeira vez já no primeiro ano da cervejaria (1836), mas sua fórmula atual data de 1956. A cerveja também é proposta em garrafas de 750 ml. Nessas garrafas a cerveja passa por uma maturação sutilmente diferenciada o que acaba refletindo no sabor da cerveja, seu aroma fica levemente mais adocicado e maduro e a cerveja apresenta um toque de baunilha. Suas características evoluem com o tempo na garrafa. Com três meses de garrafa o frutado é o mais dominante. Após seis meses, seu amargor de lúpulos ganha espaço em relação ao frutado, mas é com um ano que temos uma cerveja bem balanceada entre o amargor e o frutado. Guardá-la mais de um ano pode deixá-la excessivamente adocicada devido à perda progressiva do amargor. O conselho ai é deixá-la harmonizar-se ainda mais por quatro ou cinco anos!
A Dubbel Westmalle, é sem dúvida outro clássico do estilo! Escura, sua cor é marrom avermelhada densa com creme bege, revela-se cremosa e oferece um sabor rico e complexo, frutado com amargor muito bem balanceado, sobressaindo fortes notas de malte caramelo, terminando com um surpreendente final longo, seco, amargo e refrescante. A base da receita desta cerveja vem das primeiras décadas do século XX. A Dubbel é a única Westmalle também servida na pressão. A versão em barril também evolui de maneira um pouco diferenciada se comparada com a versão em garrafa. A versão em garrafa tem um final mais seco e amargo. Na pressão nota-se um pouco menos o frutado mas o poder do malte caramelo é mais evidente deixando o final suavemente mais doce.
A abadia não é aberta para visitas e muito menos a cervejaria. Toda a gama de produtos fabricados dentro da abadia é disponível no Café Trappisten, um senhor estabelecimento moderno e renovado do antigo e histórico café destruido após incêndio. Esse verdadeiro templo da degustação oficial fica quinhentos metros dos muros do monastério. Grande e confortável oferece é claro os dois estilos de cervejas em seus diversos envasamentos, que podem ser acompanhadas pela restauração harmonizada de queijos e produtos trapistas variados. A pedida é aproveitar da Dubbel na pressão é claro, afinal são raros os bares fora da Bélgica que servem esta variedade. O detalhe fica por conta da fórmula half Dubbel half Tripel proposta no cardápio. A idéia é misturar meia garrafa da Trípel com meio chope (pressão) da Dubbel. Extra! O endereço é parada obrigatória para aqueles que estão na região de passagem e apreciam cervejas especiais. O estacionamento é grande e existe também uma enorme área de lazer cercada e segura para os pequeninos brincarem enquanto adultos degustam seus elixires trapistas.
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