Há algum tempo venho recebendo sugestões para elencar algumas cervejas que em minha opinião tem qualidade suficiente para merecer o dinheiro do consumidor. Uma vez que existe um vácuo neste sentido na mídia nacional especializada em cerveja.
Tenho observado que é cada vez mais difícil para o consumidor – mesmo para o mais antenado – acompanhar tudo que chega ao mercado. Por um lado isso é muito positivo, pois é importante que a cena cervejeira seja infestada por novidades com certa frequência. Já por outro, há também um fenômeno negativo neste cenário. Pois na esteira de lançamentos aparecem também muitos produtos ruins, daqueles que não merecem figurar no mesmo patamar de preços que seus pares de melhor qualidade e consequentemente não deveriam ilustrar sua fatura do cartão de crédito.
Existe ainda a questão de que não podemos negar que cerveja artesanal no Brasil ainda é encarada por grande parte dos consumidores como um produto de luxo. E qual seria basicamente a grande motivação para isso? Seu preço. Contudo a ideia aqui não é debulharmos as razões responsáveis (que são muitas) para tal realidade.
O objetivo dessa singela lista é nortear aquele consumidor que, assim como eu, já se cansou de gastar seu dinheiro com cervejas medíocres e que de alguma forma, pensa em apoiar os produtores que se esforçam para entregar um produto que ao menos transmita a impressão de que seu dinheiro não foi jogado no lixo.
Só ressalto que as cervejarias relacionadas aqui possuem em seus portfólios outros rótulos dignos de serem apreciados. No entanto resolvi listar apenas um de cada uma delas.
AMAZON / BODEBROWN / DeBORA Cupulate Porter
Porter que leva cupulate (conhecido também como o chocolate da Amazônia) em sua receita. Traz um notável aroma de chocolate ao leite, leve amendoado e notas de café. Paladar entrega personalidade, camadas de sabores e uma textura cremosa. Além de um corpo médio-alto. Ótimo conjunto. Espero que ela seja produzida regularmente.
DOGMA Rizoma
Temos aqui a primeira comercial do país que entrega características evidentes das mais ovacionadas IPA do momento: as chamadas New England IPA / NEIPA ou Juicy IPA. E o que tem de tão especial neste estilo? Sintetizando: frescor, quantidade generosa de lúpulos aromáticos (frutas tropicais, cítrico), malte em segundo plano, amargor limpo, textura macia, drinkability nas alturas, não é pasteurizado e nem filtrado. Dito isso, reitero que atualmente a Dogma Rizoma é atualmente a cerveja brasileira que chega mais próximo dessas qualidades. E mesmo ela tendo um preço notadamente mais elevado do que a maioria de suas concorrentes, sem dúvida vale o investimento.
WAY BEER Amburana Lager
Cerveja que já podemos classificá-la como clássica na cena nacional. Foi uma das primeiras a flertar com sucesso com a maturação em madeira. É uma breja que continua entregando um bom conjunto mesmo com os deslizes de consistência que a Way (aliás problema esse que atinge praticamente a grande maioria das cervejarias nacionais) vem sofrendo.
TUPINIQUIM Funky & Sour
Ótima representante do mundo azedo. Traz um conjunto bem resolvido, de acidez moderada, frutado e com certa rusticidade. Sem dúvida uma forte opção para você entrar no delicioso mundo das sours. Uma cerveja que não te fará passar vergonha caso a leve de presente para algum gringo fora do país que entenda da coisa.
JOTA BEER De Bull
A J.Beer é uma cervejaria nova (cigana) e que aos poucos vem dando uma guinada positiva em sua estratégia. Recentemente ela lançou a De Bull. Uma West Coast IPA muito bem executada. Cerveja que entrega frescor, notas vivas de lúpulos cítricos e herbáceos além de um amargor de boa qualidade, ou seja, sem o famigerado harsh. Ela claramente figura hoje entre as melhores IPA do Brasil.
OCEÂNICA Slow Down
Ao contrário do que muitos pensam, fazer uma Session IPA autêntica não é algo trivial. Muitas cervejarias por aqui ainda acreditam que o estilo basicamente trata-se de uma “Pale Ale mais lupulada”. Ledo engano. Felizmente a Oceânica não enveredou por essas bandas. Conseguiu reproduzir uma clássica Session IPA. Bem aromática, corpo baixo mas não “aguado” , amargor limpo e drinkability nas alturas (principalmente se bebida em terras cariocas, origem da cervejaria).
SEASONS Holy Cow 2
A Seasons tem hoje um dos portfólios mais sólidos do país. Principalmente quando o assunto é IPA. Neste sentido a HC2 é uma compra certeira. IPA altamente aromática, base maltada em segundo plano e amargor de boa qualidade. Sem dúvida uma ótima representante das West Coast-style IPA.
BIER HOFF / KARAVELLE Preto Véio
Confesso que eu não estava esperando nada demais dessa RIS pelo simples fato dela ser fruto de duas cervejarias que não costumam se arriscar e sair da vala comum. Contudo, felizmente ela me surpreendeu! Temos aqui um resultado bem satisfatório da maturação com lascas de cedro embebidas em cachaça. As notas de madeira aparecem bem inseridas e a percepção alcoólica domada. Apenas deveria ter um pouco mais de corpo. Porém não posso negar que trata-se de uma bela surpresa!
Observo que esta não é uma lista definitiva e que foi pensada para abordar cervejas que podem ser encontradas com certa facilidade. Não relacionei aqui as de produção limitadas e naturalmente de distribuição mais reduzida.
Para concluir: é inegável que há outros rótulos (alguns que possivelmente eu ainda não tenha degustado) que mereçam fazer parte desse grupo. Justamente por isso pretendo lança no futuro a “parte II” desta lista.
E então, você concorda com este apanhado? Acrescentaria ou removeria algo?
FiL CruX
Beer Sommelier ávido por cervejas *A+* . É também um apreciador de música extrema e colecionador de miniatura de carros da PSA.
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