O Concurso Brasileiro de Cervejas é a principal competição do mercado cervejeiro da América Latina, elegendo todos os anos as melhores cervejas produzidas em solo nacional. Porém, por desconhecimento ou desinformação, muita gente ainda tem dúvidas sobre vários aspectos do concurso. Como membro do Corpo de Jurados da competição, recebo muitas perguntas. Nesse post, respondo às mais comuns.
1. VI QUE HÁ JURADOS CERVEJEIROS. ELES JULGAM AS PRÓPRIAS CERVEJAS?
R.: Não! Jamais! A organização sempre cuida para que os cervejeiros não julguem nem sequer os estilos cujas cervejas estão concorrendo. Em todos os concursos sérios é assim (até na World Beer Cup dos EUA, da qual também sou julgador). Não podemos prescindir do valioso conhecimento dos cervejeiros pra ajudar a eleger as melhores cervejas do país, bastando apenas tomar esse cuidado.
2. O QUE SIGNIFICA A NOVA CATEGORIA “CERVEJA EXPERIMENTAL”?
R.: São as receitas que ainda não foram lançadas no mercado (ou, de outra forma, as que ainda não são vendidas pelas cervejarias), as quais concorrerão, a partir de 2016, a premiações em separado, embora julgadas juntamente com as demais. Elas não concorrerão ao prêmio de Cervejaria do Ano.
3. O QUE SIGNIFICA A NOVA CATEGORIA “CERVEJA BRASILEIRA”?
R.: Trata-se de uma inovação exclusiva do Concurso, que premiará cervejas que utilizam técnicas de processo ou ingredientes (frutas, condimentos, especiarias, leveduras, lúpulo e madeiras) característicos do Brasil.
4. OS ESTILOS DE CERVEJAS A SEREM JULGADOS SÃO DO BJCP?
R.: Não. O Guia de Estilos do BJCP (Beer Judge Certification Program) é utilizado para competições entre cervejas caseiras. Nas competições entre cervejeiros profissionais, o guia mais utilizado no mundo é o da Brewers Association (BA). Os 48 juízes são selecionados pela organização em função de suas capacidades reconhecidas entre os profissionais de cerveja (mestres cervejeiros, sommeliers e profissionais da área com notório saber). Portanto, o Concurso Brasileiro não segue as regras ou é credenciado pelo BJCP.
5. AS FICHAS DE JULGAMENTO SÃO POR PONTUAÇÕES EM CADA QUESITO?
R.: Até 2014, o Concurso Brasileiro utilizava um critério de pontuação numérica conferida para cada quesito (aroma, sabor, etc.). Hoje, segue-se o padrão da World Beer Cup (EUA), no qual não há pontuação numérica nas fichas de avaliação, e os juízes debatem e escolhem as amostras que serão ou não classificadas. É a forma mais justa de premiar.
6. HÁ POSSIBILIDADE DE FRAUDE NAS AVALIAÇÕES?
R.: Não. As avaliações são feitas por meio de amostras numeradas e sem qualquer identificação da cervejaria – o chamado “teste cego”. Nenhum jurado possui acesso à sala onde os copos das amostras são enchidos. Nenhum jurado possui qualquer condição de relacionar o número da amostra à cerveja ou à cervejaria. Um jurado que, a partir das suas percepções sensoriais, estiver certo de que conhece determinado rótulo em julgamento, deve levantar-se da mesa e declarar-se suspeito para julgar (eu mesmo já fiz isso algumas vezes).
7. OUVI DIZER QUE A MESA DE JULGAMENTO DAS CERVEJAS QUE CONCORREM AO PRÊMIO “BEST OF SHOW” É COMPOSTA APENAS POR JURADOS ESTRANGEIROS. PORQUE?
R.: Justamente para minimizar que algum jurado brasileiro conheça sensorialmente alguma cerveja concorrente. Os jurados estrangeiros, que não têm familiaridade com as cervejas brasileiras, conferem credibilidade ainda maior à competição mais importante da América Latina.
8. UM CERVEJEIRO PODE ENVIAR UMA AMOSTRA DE CERVEJA FEITA SÓ PARA O CONCURSO?
R.: Em tese, pode. Mas quem seria tão estúpido de fazer uma receita inteira de cerveja só pra enviar 15 garrafas e jogar o resto fora? E qual seria a legitimidade de ganhar uma medalha nessas condições?
9. OUVI PESSOAS DIZEREM QUE O CONCURSO “NÃO PREMIA A INOVAÇÃO”. ISSO É VERDADE?
R.: Depende. Concursos cervejeiros premiam, antes de tudo, a conformidade. Como se trata de um concurso do mercado para o mercado, o que se quer é justamente premiar cervejas que traduzem à perfeição os estilos da bebida internacionalmente propostos, fiéis às suas descrições sensoriais. Há, por outro lado, várias categorias de estilos que são “abertas”, sem quesitos técnicos muito específicos e engessados, que convidam à inovação. Cervejeiros que buscam reconhecimento à inventividade devem buscar adequar e inscrever suas amostras nesses estilos.
10. PORQUE O CONCURSO BRASILEIRO DE CERVEJAS É TÃO IMPORTANTE PARA O MERCADO DE CERVEJAS NACIONAL?
R.: Por inúmeras razões, sendo três, a meu ver, as principais, a saber: A) Coloca o mercado cervejeiro em evidência, fazendo com que mais pessoas conheçam o trabalho dos cervejeiros; B) Ter uma medalha do Concurso estampada no rótulo é uma forma de alavancar as vendas e ajudar a aquecer todo o mercado. Uma medalha que você dá (ou que você tira), influencia financeiramente em várias famílias de gente que vive disso, e; C) É um baita reconhecimento pra quem empreende, paga altíssimos impostos, sua a camisa, rala muito e “bate barril” o ano todo numa profissão muitas vezes mal reconhecida. Pra quase todos esses caras, uma medalha vale muito, mas muito mais que dinheiro.
ATUALIZAÇÃO: PERGUNTA SUGERIDA POR INTERNAUTA
11. OUVI DIZER QUE TODAS AS CERVEJAS GANHAM MEDALHAS. É ISSO MESMO?
R.: Não. Na edição de 2015, haviam 874 rótulos para 117 categorias. Cada categoria premia com 3 medalhas (ouro, prata e bronze). Assim, são 351 medalhas em jogo, sendo que muitos estilos não recebem premiações por suas amostras não atingirem o nível de excelência requerido. Então, embora pareça uma “enxurrada” de medalhas, apenas uma minoria das cervejas ganha prêmios.
Espero ter sanado as dúvidas da galera que me pergunta e me escreve a todo momento. Se tiverem outras dúvidas, podem perguntar ou então consultar o regulamento da competição.
Peço a todos para apoiarem o Concurso Brasileiro de Cervejas, uma competição séria e importantíssima pro nosso mercado.
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