Essa é a pergunta que não quer calar hoje, um dia depois da aprovação, pela Câmara dos Deputados, do regime tributário do Simples para as cervejarias artesanais. Nada mais justo! Quem doou ao menos um naco do seu tempo mandando e-mails pra os parlamentares quer, ao fim e ao cabo, que a cerveja que toma no bar tenha um preço mais justo, sem detonar tanto o bolso como hoje. Mas a resposta, como a maioria das coisas da vida, e com o perdão do trocadilho, não é tão simples.
Pra começar, a vitória de ontem foi importante posto que, pela primeira vez, o setor se uniu em torno de uma causa. Embora tenha essa importância política, foi apenas a primeira. Ainda há um caminho longo pela frente.
Após a aprovação, o projeto de lei que inclui as cervejarias artesanais no Simples ainda deve se submeter ao crivo do Senado. Passando essa segunda fase, há ainda a terceira, que é a sanção da presidente. Tudo pode acontecer na nossa proa (incluindo alterações no projeto ou o veto da presidência), e temos que continuar mobilizados para que tudo ocorra do jeito que desejamos.
Deu tudo certo? Ótimo? Então a cerveja vai ficar mais barata?
Essa é a ideia, claro. Agora mesmo, os diretores da Abracerva (Associação Brasileira de Cerveja Artesanal) estão quebrando a cabeça entre o texto aprovado ontem em Brasília e uma infinidade de cálculos para tentar determinar de QUANTO será o desconto, digamos, “global”. De posse dessa resposta, outras variáveis aparecem, como a regulamentação final da lei, as questões tributárias específicas de cada Estado e a estratégia fiscal de cada cervejaria. A seu tempo e ao longo dos próximos dias, mais e mais perguntas serão respondidas pela entidade.
Cálculos feitos, é preciso entender ainda que, no mercado, as coisas não acontecem da noite pro dia. Hoje, a esmagadora maioria dos cervejeiros artesanais opera com margens de lucro muito pequenas, e muitas ainda dependem da “vaca leiteira” (outros negócios “principais” que os cervejeiros possuem, mais rentáveis e não relacionados a cerveja) pra operar. Na real, em sua essência, o mercado ainda é uma grande promessa.
Isso porque, com mais impostos, fica mais difícil para produzir cerveja (ou qualquer outra coisa). Fica, por conseguinte, também mais difícil de vender, pra gerar lucro e renda. Com o poder de compra da população já diminuindo por conta da crise, os preços tendem a subir. Se você produz e compra menos, mais caro fica o seu produto, e menor fica a sua arrecadação. Isso é o que vem acontecendo há anos.
Certamente, com menos impostos, a aposta é que as margens de lucro aumentem, o que alavancará mais investimentos no setor. Com mais investimentos, a produção ficará menos onerosa, a concorrência se tornará mais acirrada e, por fim, esse círculo benigno chegará às etiquetas de preços de cada cerveja. Não há mágica.
Isso, de fato, acontecerá?
Essa é a aposta, e este escriba joga suas fichas nesse panorama. Não vejo porque seria diferente.
Mas vai levar tempo? Vai! Após a provável aplicação do regime do Simples às cervejarias artesanais, é o mercado que se acomodará para que esse cenário benigno aconteça. Mas um tempo “esperável”, com certeza! Prevejo que, em questão de alguns meses, se tudo der certo, já teremos anúncios de cervejas mais em conta — ou, pelo menos, sem aumento de preços. Claro que essa realidade depende de inúmeros outros fatores externos, como a inflação ou a taxa de câmbio.
Mas sejamos esperançosos! O que aconteceu ontem na Câmara foi um passo de gigante se comparado com o vazio absoluto do passado. E, mesmo sendo um pequeno passo, ele não foi pequeno.
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