O chato do jornal

Anteontem, no Estadão, o colunista Tutty Vasques escreveu um artigo criticando o trabalho dos sommeliers de cervejas como sendo “chatos”, e bares com maior variedade de brejas especiais como “botecos metidos a besta”. Disse também o atualizado ensaísta que “a maioria dos mortais” só quer que a cerveja esteja “estupidamente gelada”.

À luz dessas tão pertinentes observações, ao ilustre articulista,  seguem algumas recomendações úteis:

– Está faminto? No restaurante, peça ao garçom “uma comida”. Recuse o menu e a recomendação do maître, porque isso tudo é “metido a besta” e gastrochatia;

– Está doente? Na farmácia, peça simplesmente “um remédio”. Voe no pescoço do farmacêutico metido a besta que lhe perguntar qual a sua doença;

– Férias? Que legal! Vá até a agência de viagens e compre “uma viagem”. Faça cara feia se o agente de turismo lhe perguntar pra onde deseja ir, isso é turismochatia;

– Desempregado? Que pena! Na agência de empregos, desconfie do sujeito (chato, claro) que lhe perguntar a sua especialidade profissional;

– Quer reformar? Na loja de materiais de construção, peça apenas “um piso”, “um azulejo” ou “um revestimento”. Importar-se com os tipos de materiais é, por óbvio, chatice;

– Solteiro? Nos bares, baladas e afins, queira somente “uma mulher” (imaginando, claro, que essa seja a sua praia…). Importar-se com a aparência ou a personalidade dessa mulher é atitude de chatice flagrante;

Eu poderia passar o dia todo imaginando as situações mais diversas, divertidas e bizarras, mas paro por aqui, deixando um imenso abraço ao caro colunista. Viva feliz no seu mundo binário, desatualizado e preconceituoso.

P.S.: Como leitura complementar, sugiro o brilhante texto da Fabiana Arreguy, do Blog Pão e Cerveja.