O mineiro João Becker é um sujeito grande. Além de parrudo, o João joga rugby, que é aquele esporte parecido com o futebol americano, só que sem frescuras indumentárias, como capacetes e ombreiras. Tenha medo.
Pois além de ser um sujeito grande, parrudo e que joga rugby, o João faz cerveja em casa. “Mas nada de touquinha, máscara e luvas. O negócio aqui é na ´brutidade´. É por isso que a cerveja fica boa!”, declara. Esse é o João, na sua essência. Tenha muito medo.
A Rugbeer O´Driscoll é uma ginger ale, ou cerveja de gengibre. O estilo não existe no BJCP, e o João não está nem aí. Ele decidiu reproduzir por aqui uma certa breja que adorava beber num pub da Nova Zelândia, país no qual morou por uns tempos. Quanto ao nome, o João decidiu homenagear num só drop goal o esporte do qual é fã e um dos seus melhores jogadores, o irlandês Brian O´Driscoll, que é o sujeito que aparece no belo rótulo da breja. Por sinal, o termo ginger, além de gengibre, significa “ruivo”, e é o apelido do jogador, o que potencializa ainda mais a homenagem.
Com os pitacos providenciais do grande mestre Paulo Schiaveto, pôs mãos à obra e, com brutidade e tudo, elaborou essa verdadeira preciosidade do homebrewing nacional. Este escriba, em sua viagem aos sabores inusitados das cervejas americanas já tinha experimentado boa dose de deliciosas inovações. Mas nada havia me preparado para a cerveja do João.
A coloração é âmbar clara, e o creme branco é medianamente denso, consistente e persistente. No aroma… Gengibre, claro! A especiaria domina todo o nariz, dando a ideia da refrescância da breja e deixando em segundo plano o malte. Há também uma levíssima percepção herbácea lupulada.
Na boca, a cerveja explode em sensações REALMENTE picantes. O apimentado do gengibre assoma os sentidos, permanecendo no paladar por longos e deliciosos momentos após a degustação. Essas sensações continuam ainda na garganta, “esquentando” o paladar. Um leve amargor de lúpulo pode ser percebido na base da língua. A carbonatação é leve, o corpo é médio e a sensação alcoólica é perceptível, valorizando o conjunto. Diferente. Ímpar. Deliciosa.
Conhecemos pessoalmente o João Becker em nossa viagem a Belo
Horizonte, quando estivemos por lá conferindo o incrível Roteiro Cervejeiro da cidade. A impressão causada pelo tamanho e a parrudice do João logo se
desvanece no primeiro papo, revelando um cara incrivelmente legal, alegre e verdadeiramente apaixonado pelo que faz.
Ele pintou na nossa mesa do Frei Tuck de terno e gravata, logo avisando que estava naqueles trajes tão sem-brutidade porque iria a um baile de formatura ainda naquela noite. Mas deixou-se ficar entre os BREJAS até altas horas, em altos papos degustativos.
A brutidade reapareceu, porém, quando este escriba ousou perguntar-lhe em determinado momento sobre a forma pela qual agregava o gengibre à sua breja, permitindo um resultado tão harmônico da especiaria com os demais ingredientes.
Em milésimos de segundo, a figura afável e alegre de terno deu lugar ao jogador de rugby, pronto para tomar-me a bola oval num tackle rasteiro. Logo entendi que é justamente esse o grande segredo da Rugbeer O´Driscoll. Nunca, jamais ouse perguntar isso ao João.
Tenha medo. Tenha muito medo.
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