Em pesquisas preparatórias para a minha viagem cervejeira a Nova York, sempre lia que a palavra de ordem dos cervejeiros artesanais americanos era mais. Mais lúpulo, mais malte e, em alguns casos, mais álcool. Era sobretudo essa característica que diferenciava a nova escola cervejeira americana da sua inspiradora europeia. Apesar desse radicalismo — que, para alguns, pode soar “americano” demais — as fórmulas geralmente funcionam, e muitíssimo bem, como o leitor acompanhará ao longo dos próximos posts.
Todavia, para continuar a compartilhar com vocês essa “nova” onda, tão desconhecida por aqui, é mais que necessário que o leitor entenda um pouco da história do renascimento das cervejas artesanais nos Estados Unidos, que se deu relativamente há pouco tempo, e que vem revolucionando o mundo cervejeiro.
Em 1876, havia cerca de 2.700 cervejarias em solo americano. Todas artesanais, geralmente tocadas por imigrantes europeus, cujas brejas eram populares apenas nos locais de origem, sem distribuição para o resto do país.
Cem anos depois, elas já não existiam mais. Foram todas dizimadas primeiro pela Lei-Seca americana de 1920. Anos depois, revogada a maldita norma, vieram as grandes cervejarias, como Budweiser, Miller e Coors, que faziam basicamente o mesmo produto (cervejas fraquinhas e sem gosto), mas contavam com estruturas profissionais de distribuição por todo o país.
Foi apenas na metade dos anos 70 que uma reviravolta começou a acontecer no estado da Califórnia. Vinicultores dos vales do Napa e Sonoma que retornavam de viagem à Europa perceberam como as cervejas poderiam ser muito mais do que as aguadas standard american lager, e alguns resolveram pôr mãos à obra. Surgiram então microcervejarias pioneiras como a New Albion, Mendocino, Anchor e várias outras.
O movimento se espalhou para o resto do país e hoje os Estados Unidos vivem em outro mundo em comparação com as trevas pré-anos 70. Em solo americano, convivem atualmente mais de mil microcervejarias.
Foi uma pequena parte dessa diversidade que fui experimentar. Quando viajei à terra de Obama, buscava as chamadas cervejas “extremas”. Encontrei muito mais do que mero extremismo. Achei misturas deliciosas de ingredientes improváveis, aromas maravilhosos, sabores incríveis, bares superlegais e gente muito bacana fazendo e servindo brejas personalíssimas.
Feita essa pequena introdução, agora fico mais tranquilo para continuar a contar aos leitores do BREJAS minhas experiências cervejísticas na América. Leiam — e divirtam-se — sem moderação.
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