Sommelier de cerveja: A parte e o todo

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A imagem acima corresponde a um quadro contido na matéria intitulada “Eles bebem em serviço”, publicada em 24 de agosto último na revista regional Veja São Paulo — a “Vejinha”. A reportagem abordava o surgimento da profissão de sommelier de cerveja no país.

Não concordando com a frase em destaque (“Ganhar até 3 000 reais por mês pra ficar bebendo”) como sendo uma “vantagem” da carreira, enviei uma carta à redação da revista. O teor resumido desta carta foi publicado na última edição da revista, datada de 31 de agosto de 2011:

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A própria revista avisa, na seção “A Opinião do Leitor”, que por motivos de espaço ou clareza, as cartas dos leitores podem ser publicadas resumidamente. Foi o que, compreensivelmente, aconteceu em relação à minha. Portanto, a fim de tornar mais clara minha opinião a respeito da reportagem, resolvi publicar aqui a íntegra da minha correspondência à Vejinha:

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Prezado Senhor Diretor de Redação de VEJA São Paulo,

Por meio desta, venho esclarecer e refutar a afirmação contida na frase “Ganhar até 3.000 reais por mês pra ficar bebendo”, na matéria “Eles bebem em serviço”, da última edição de Veja S. Paulo, de 24/08/2011.

Como docente do Curso de Formação de Sommelier de Cerveja do SENAC-SP em parceria com a Doemens Akademie (Alemanha), incutimos nos nossos alunos o apreço pela filosofia “Beba Menos E Melhor”. Mostramos, com ela, que a cerveja, embora há séculos marginalizada no Brasil, tem a mesma nobreza do vinho. Não é necessário beber em grandes quantidades para apreciá-la como se deve.

Outro ponto que deve ser observado é que a frase infeliz estimula o consumo exacerbado da bebida como se fosse uma vantagem, em claro descompasso com a nova filosofia de consumo que pregamos, bem como em descompromisso com a responsabilidade social no que tange à nova imagem da cerveja que desejamos propagar.

Além de professor e palestrante de cervejas, sou proprietário do maior site sobre cervejas do Brasil, o www.brejas.com.br, bem como sócio do Bar Brejas, em Campinas-SP, especializado em cervejas. Posso afirmar que, a partir do momento que me tornei um profissional da cerveja, bebo muito menos, fazendo minhas escolhas com mais critério e consumindo com muito mais responsabilidade.

Desde já, autorizo a publicação deste texto no todo ou em parte.

Um abraço,

MAURICIO BELTRAMELLI
Docente do Curso de Formação de Sommelier de Cervejas SENAC-SP/Doemens Akademie e Mestre em Estilos de Cerveja e Avaliação pelo Siebel Institute of Technology (Chicago-EUA).

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É um caminho longo mas, com a ajuda de todos os que querem ver difundida a Cultura Cervejeira, aos poucos vamos quebrando certos preconceitos em relação à profissão de sommelier de cerveja e à própria bebida.


Comments

9 responses to “Sommelier de cerveja: A parte e o todo”

  1. Rafael Moreno Avatar
    Rafael Moreno

    Maurício, excelente e muito prudente seu posicionamento frente à reportagem da Veja. Você teve notícias se eles irão publicar sua carta e quando? Abraço!

  2. Acho irônico que jornalistas, formadores de opinião se utilizem de sua voz para fazer fanfarra sobre o profissionalismo dos outros quando eles mesmos esquecem a ética e ao juramento que fizeram. O tom jocoso não é bem vindo. Assim como o jornalista sério, os profissionais e os muito amadores dedicados as bebidas fermentadas e destiladas, temos que ser criteriosos e justos com nosso público e aqueles que são influenciados por nossas opiniões e escolhas.

    Lamento que o histórico editorial investigativo e combativo da Veja tenha se transformado em um tabloide, ora humorístico, ora sensacionalista.

  3. Wellington Avatar
    Wellington

    Muito boa a abordagem, mas a pena é que na integra a grande maioria das pessoas vão continuar a ter a mesma opinião sobre a cerveja! O problema é que as grandes companhias sempre vão ter o controle da imprensa, assim fica bem difícil difundir uma cultura que a grande maioria só quer degradar… Mas vamos continuar lutando que aos poucos vamos conseguir! Um abraço a todos que não querem desistir desse ideal.

  4. Renato. Avatar
    Renato.

    Acredito SIM que os jornalistas deviam se informar melhor, mas dentro do mundo cervejeiro ainda temos muita gente pregando o consumo não consciente da cerveja. TODOS temos que tomar cuidado, desde simples iniciantes nessa mundo ate os diplomados Beer somelier, espalhados por ai. Temos que ter consciência que um diploma na parede não o torna um especialista no assunto. Então pratiquemos a cultura diariamente.

  5. Paulo Schiaveto Avatar
    Paulo Schiaveto

    Maurício, obrigado primeiro por se dar ao trabalho de responder ao artigo, mostrando a todos que podemos contribuir mais do que normalmente já fazemos com a cultura cervejeira.
    Certamente o estagiário que deve ter escrito esse texto às pressas para a revista (não pode ser um jornalista…) já aprendeu algo a mais sobre os princípios que queremos difundir.

  6. Pessoal,
    Muito obrigado pelas colocações!
    Rafael, acho muito pouco provável eles voltarem nesse assunto e publicarem minha carta na íntegra.
    Paulo,
    Valeu pelas palavras. A intenção foi essa mesma, fazer com que o jornalista pense melhor na próxima reportagem sobre cervejas especiais e sommeliers de cerveja.

  7. alexandre Avatar
    alexandre

    Ótima atitude! Repudiável a atitude de uma revista como a Veja (muitas vezes formadora de opinião) tratar uma profissão desta forma. Após a carta, o mínimo que eles poderiam fazer é pedir desculpas aos profissionais do ramo pelo tom pejorativo que utilizaram na matéria.

  8. Maurício, acho que gastrônomos e degustadores (cerveja, vinho e destilados) sofremos com o estigma de, simplesmente, sermos “sedentários” do inebriante bom viver. Como profissionais de uma categoria abrangente, temos que ficar unidos nestes momentos de ataque dissimulado ao profissionalismo e dedicação a nossa profissão. Atuo como sommelier (focado em vinho) e consultor, mas para uma boa briga, pode contar comigo para defender as boas, velhas e novas cervejas especiais.

  9. Mauricio,
    Muito obrigada pela iniciativa e pelas precisas palavras!
    Beijo,
    Cilene.

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