É inegável que o mercado cervejeiro brasileiro deu um salto nos últimos anos em quantidade de rótulos e numa menor escala, em qualidade. Temos visto novas cervejarias surgindo por vários cantos do país. Sejam com infraestrutura própria ou mesmo utilizando o modelo de contract brewing / Cigano.
Se por um lado há diferenças entre elas no modelo de negócio, por outro, existe uma similaridade que vem se tornando praticamente uma receita de bolo: a presença de IPA no portfólio. E isto é ruim? De forma alguma. Contudo, desde que realmente seja uma verdadeira IPA.
Por mais que a considerável quantidade de lançamentos de IPAs talvez passe a impressão de que o estilo esteja saturado, eu diria que ele simplesmente ainda nem mesmo foi explorado a contento por aqui. Pois IPA bem feita no Brasil ainda é exceção. Infelizmente. Na grande maioria delas ainda faltam características básicas do estilo como aromas (seria demais pedir algum frescor?) e sabores advindos do lúpulo, sobra dulçor da base maltada, harsh nas alturas e outros atributos indesejáveis. Não entrarei aqui no mérito dos não-tão-raros off flavors que eventualmente aparecem e acabam ofuscando ainda mais a experiência da degustação.
Felizmente temos algumas cervejarias (poucas é verdade) que estão dispostas a mudar este panorama e naturalmente ocupar o vácuo deixado pelas demais. Ou seja: estão roubando a cena! E isto acontece porque elas simplesmente resolveram fazer IPAs como se deve (utilizando insumos de qualidade, sem economia porca na quantidade desses, não pasteurizando e eventualmente não filtrando) e não apenas um esboço rasurado do estilo.
E para aqueles que dizem por aí que IPA já é coisa batida e que a onda agora é apostar em estilos mais hipsters rebuscados, saibam que ele é de longe o estilo mais vendido no mercado de artesanais dos EUA (mercado que atualmente é o mais inovador do mundo quando o assunto é cerveja) e que por lá as cervejarias tem praticamente por obrigação a incumbência de disponibilizar uma IPA de qualidade em seus portfólios. Muitas inclusive dependem disso para sobreviver.
Uma simples demonstração da força que o estilo detém sobre a terra do Big Four do Thrash Metal; é a quantidade de IPA/DIPA (são “apenas” 8 entre as 10 primeiras) presente no ranking das melhores cervejas dos EUA elaborado pela tradicional pesquisa realizada pela revista Zymurgy (a edição 2016 acabou de ser divulgada). Para quem não conhece, trata-se de uma pesquisa feita com associados da Home Brewer Association. A deste ano foi respondida por cerca de 18.000 associados.
Então cervejeiro, antes de se aventurar por estilos mais complexos buscando com isso talvez uma maior exposição em mídias especializadas, redes sociais e afins, que tal tentar produzir aquela IPA básica que entrega ao consumidor a verdadeira sensação que se espera do estilo? Uma daquelas que o faz esquecer até mesmo da quantia (que costuma ser alta) paga pela breja? Certamente a cervejaria que navegar por essas águas acabará roubando a cena.
E então, qual será a próxima cervejaria que vai roubar a cena no Brasil?
FiL CruX
Beer Sommelier ávido por cervejas *A+* . É também um apreciador de música extrema e colecionador de miniatura de carros da PSA.
Leave a Reply
You must be logged in to post a comment.