Tão tradicionais como o peru e a carraspana etílica da ceia, é nos finais de ano que as retrospectivas vicejam nos canais televisivos. E, como o leitor não verá nesses programas qualquer menção às cervejas especiais, faço aqui a minha retrospectiva cervejeira, baseada nas postagens do Blog do BREJAS ao longo deste ano que se vai.
E que ano! Começou em negras nuvens, na esteira da crise mundial que tantas cabeças fez rolar planeta afora. O governo brasileiro ainda deu uma senhora “mãozinha” pro lado luminoso da Força Cervejeira, aumentando a carga tributária para o setor, penalizando as micros. Driblando a crise e a tungada governamental, a Cervejaria Colorado mudou a tampinha das suas garrafas. Já a Falke Bier respondeu com o lançamento de duas novas brejas, Estrada Real e Ouro Preto. E logo em fereveiro as cervejas Boon, no estilo lambic, chegaram ao país, surpreendendo paladares.
Em março este escriba esteve em viagem exploratória cervejeira por Nova York. De quebra, aprendi um pouco sobre a nascente e criativa escola cervejeira americana. Na volta, este site promoveu o evento que hoje é uma tradição zitogastronômica, o primeiro Pratos & Brejas, coincidindo com o lançamento do nosso Guia de Harmonização e da Galeria de Fotos. Seguindo o ritmo novidadeiro, cervejeiros de Belo Horizonte lançaram as bases para o Movimento Slow Bier Brasil. As festas foram no mesmo dia, e os convivas de Campinas e de Belô confraternizaram juntos via skype. E, em maio, foi a vez do Confrade brejeiro Ricardo Sangion fazer a sua trip pela Escandinávia e Rússia.
Foi em 2009 que a Guinness, stout que arrebata fãs universais, completou 250 primaveras. A Colorado anunciou em primeira mão aqui no BREJAS sua mais nova cerveja Vintage Black Rapadura que, graças à inoperância burocrática do Ministério da Agricultura que ainda não a liberou para o consumo, até hoje ainda dorme nos estoques da fábrica em Ribeirão Preto, longe dos nossos paladares. E enquanto a Backer Medieval que, com sua ritualística peculiar, atraía a atenção nos bares quando a chama era acesa para abrir seu lacre, a cultura cervejeira adentrava ao território do vinho, a reboque das paletras e degustações ministradas por este escriba na Associação Brasileira de Sommeliers.
Talvez o evento cervejeiro que mais animou a comunidade brejeira nacional foi a Brasil Brau – Feira Internacional de Tecnologia em Cervejas. Praticamente todo o mundo cervejeiro brasileiro apareceu por lá, e a confraternização foi imensa, além da troca de informações e dos negócios entabulados. Um barato de evento, que deveria acontecer todos os anos — e não bienalmente, conforme a fórmula de hoje. Foi por essa época que o Ranking de Cervejas do BREJAS completou sua milésima cerveja cadastrada enquanto a Joinville Porter, receita ganhadora do Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn, era lançada. O ano também marcou a vinda de personalidades cervejeiras internacionais. Visitaram as terras patropis gente do porte de Randy Mosher, Conrad Seidl e Charles Papazian.
“Belo Horizonte respira cerveja artesanal”, já dizia o cervejeiro Marco Falcone. Pelas graças de Gambrinus eis que, nas ondas do rádio, nascia o programa Pão & Cerveja, capitaneado pela jornalista Fabiana Arreguy (CBN de Belo Horizonte). Perde-se a conta do caminhão de personalidades do mundo da cerveja que já participaram da coluna semanal. A luta, agora, é fazer com que o programa seja veiculado em rede nacional. E foi lá de Belo Horizonte que também surgiu a novidade lítero-cervejeira do ano na língua portuguesa: O Larousse da Cerveja, guia obrigatório do mineiro Ronaldo Morado. E, pra arrematar a onda cervejeira mineira, em agosto o BREJAS esteve por lá a convite dos cervejeiros quando, na companhia de personalidades como o mestre cervejeiro Paulo Schiaveto, percorreu a nascente Rota Cervejeira de Belo Horizonte.
Outubro foi mês de dois eventos cervejeiros por excelência, ambos cobertos in loco pelo BREJAS. A Oktoberfest de Blumenau mais uma vez apresentou ao grande público as cervejarias artesanais da região do Vale do Itajaí. Já na capital carioca, o IV Concurso de Cervejas Artesanais das ACervAs (associações de cervejeiros caseiros) reuniu mais de mil pessoas numa grande e inesquecível festa.
2009 também foi o ano deste site virar bar. Em novembro nasceu em Campinas (SP) o Bar Brejas, de propriedade dos editores deste sítio. Dedicado exclusivamente às cervejas especiais, o Bar Brejas tem o compromisso de fazer na prática o que já praticamos no meio virtual: Beer evangelizar. Em apenas um mês de operação o interesse do público e da mídia local foi intenso, tanto que a casa foi eleita pela AcervA Paulista como sua sede oficial.
Aproveitando o assunto beer evangelismo, o ano que se finda foi, sobretudo, o ano das pessoas “acordarem” para as cervejas especiais. Cada dia há mais pessoas querendo experimentar e, por conseguinte, se expressar, sobre os novos aromas e sabores já provados. Foi com uma certa relutância que o BREJAS lançou, em setembro o Fórum de discussões cervejeiras. O receio era o de que outras mídias “da moda”, como Orkut e Twitter, engolissem o aplicativo, deixando-o às moscas. O que ocorreu foi exatamente o contrário: A comunidade cervejeira recebeu maravilhosamente bem o Fórum do BREJAS, que angariou usuários entusiasmados — e qualificados! — e, em alguns dias, mais de 70 participações. Esses usuários promoveram em dezembro o 1º Encontro do BREJAS em São Paulo, evento mais que animado, regado a amizade, cervejas especialíssimas e degustação première da Bamberg Weizenbock, a cerveja nº 1000 do Ranking BREJAS.
E é justamente por causa desse interesse crescente por parte do consumidor que o ano se vai deixando um saldo altamente positivo. É sintomático, por exemplo, que as cervejas artesanais dos Estados Unidos estejam aportando por aqui: Em janeiro de 2010 chegam Flying Dog e Anderson Valley, e em março é a vez das Brooklyn Brewery. E, na banda nacional, mais brejas artesanais brasileiras continuam abiscoitando prêmios na Europa.
Dificuldades, sempre teremos. Mas é com galhardia que as venceremos, e temos de ter sempre em mente que é possível vencê-las. Prova disso foi o corte à metade do ICMS com que foram agraciadas, em novembro, as cervejarias artesanais de Santa Catarina, uma vitória para a cultura cervejeira, ainda que regional.
O caminho é irreversível; quem experimenta as brejas especiais invariavelmente se apaixona, criando a cada dia que passa mais massa crítica ao “nosso” favor. Para a cultura cervejeira nacional, o ano de 2009 não foi apenas bom em si próprio. Foi também um prenúncio do que virá nos próximos anos. E o vislumbre desse vir-a-ser é, apesar das dificuldades, extremamente promissor.
Feliz 2010 cervejeiro!
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