Em Ceský Krumlov, na República Tcheca.
Por entre casinhas coloridas e irregulares ao velho estilo da Boêmia, estava deserta e plácida a ruela que dava acesso à cidade, por onde andávamos em direção ao centro histórico. De repente, atrás de nós, sons de cascos irrompem a calmaria. Automaticamente nos esprememos junto à parede caiada, quando passam por nós, altivos, cavalos engalanados transportando cavaleiros vestidos à moda castelã medieval. Eu e Fabi, minha mulher, não estávamos preparados para a surpresa. Havíamos chegado há minutos na cidade e nos instalado numa pousada na qual o proprietário — o Jan — num inglês-tcheco praticamente ininteligível, com a maior boa-vontade do mundo nos explicara que a cidade estava, naquele final de semana, “cheia por causa da festa”. Que festa? Pra não ficar chato, fingimos que entendemos o dialeto do anfitrião e saímos batido a pé em direção à cidade. Quando, então, vimos no que havíamos nos metido.
Ceský Krumlov é uma cidadezinha medieval, com castelo e tudo, situada quase na fronteira com a Áustria, cuja descrição está neste post sobre a cervejaria da cidade. A Slavnosti Petilisté Rúze, ou “Festa da Rosa de Cinco Pétalas”, é realizada anualmente na cidade sempre em meados de junho, desde o século XVI, inicialmente para festejar o aniversário da Rainha da Boêmia, Anna de Rozmberk. Durante três dias o coração histórico de Krumlov retorna à Idade Média. Por toda a cidade, desenrolam-se torneios de justa, desfiles de antigas guildas, grupos de flautistas, bobos da corte. Homens, mulheres e crianças vestem-se à moda medieval e desfilam, orgulhosos e sorridentes, por entre os visitantes. E nós estávamos lá, sem querer, exatamente no final de semana da festa.
Na praça central ergue-se um grande palco onde durante todo o dia e até de madrugada revezam-se grupos folclóricos tocando música antiga da Boêmia, bem como as danças típicas da região. Ao longo de todas as ruas, barraquinhas com vendedores também caracterizados oferecem de tudo: porcos assados inteiros, embutidos, doces, drinques, artesanato. E há, claro, a cerveja. Pilsen tcheca, naturalmente. A cada cem metros dá pra abastecer o tanque com canecas de meio litro do quilate de Pilsner Urquell, Staropramen, Gambrinus, e a breja orgulho da cidade, a centenária Eggenberg. Impossível não entrar no clima.
Entrar inadvertidamente na festa sem mesmo saber que ela existia ou o motivo pela qual era feita nos fez sentir como aqueles apresentadores do Discovery Travel and Living. Imediatamente entendemos que havíamos sido agraciados com a sorte que brinda os bravos. Esperávamos ficar na cidade apenas um dia e acabamos ficando três, enchendo a pança de prílohy (uma panqueca de batata, talvez o melhor tira-gosto que já experimentei) e com as melhores brejas pilsen do mundo.
No final, acabamos por ficar amigos do Jan, uma simpatia. Na segunda-feira de manhã, ao nos despedirmos, ele, na base da mímica, nos apontou numa das paredes da pousada um grande mapa-múndi cheio de alfinetes espetados. Logo entendemos que cada visitante que se hospedava lá perspegava um deles no lugar correspondente ao qual havia vindo. No lugar do Brasil, ainda não havia nenhum alfinetinho. Éramos os primeiros brasileiros na Slavnosti Petilisté Rúze. Ou, no mínimo, daquela pousada. Essa glória ninguém mais tira da gente.
Aproveite a viagem e visite a nossa seção Viagem e Cerveja – dicas de onde beber as melhores cervejas.
Leave a Reply
You must be logged in to post a comment.