Beer-chatices: Como fugir delas

beerchato

por Fabiana Arreguy*

Harmonização… é uma palavra até bacana, mas convenhamos, anda meio desgastada, não? Há alguns dias, no programa Pão e Cerveja, o Mauricio Beltramelli me contava sobre o curso de Somelier de Cervejas que ele acabara de ministrar no interior de São Paulo. A profissão parece mesmo ter pegado por aqui… Matéria da revista Veja enumera 300 beer-someliers no Brasil, do ano passado para cá. Número considerável, hein? E foi justamente  com esse mote que eu logo perguntei ao Mauricio se não se tratava da formação de “beer-chatos”!  Tenho ouvido muito esse termo e, confesso, me preocupa demais não me transformar em um deles!

Pois então, pensando no assunto, resolvi fazer uma listinha daquelas malices que torram a paciência de quem simplesmente quer tomar sua cerveja embeerchato2 paz! Explico logo: estou listando as chatices que me incomodam. Não são verdades absolutas e nem regras! Afinal, cuspir regras é uma “beer-chatice”e tanto!

Voltando então à palavra “Harmonização”… Ela entra na  minha lista pelo desgaste sofrido com uso exagerado e muitas vezes fora da hora e do local! Sentar num boteco no fim da tarde e pedir uma simples loura gelada com os amigos do trabalho é um dos eventos sociais mais comuns ao brasileiro. Cerveja é democrática e, todos sabemos, tem esse belo poder de reunir pessoas em torno da mesa para jogar conversa fora. Nessa hora não vale escapar de tomar a cerveja de massa e ainda por cima querer “harmonizá-la”com aqueles tira-gostos clássicos que nenhum botequeiro abre mão! Você será um sério concorrente a não ser convidado para o próximo happy hour!

Cerveja “de verdade” e “de mentira”

Já que estamos no boteco, outra malice sem tamanho é querer convencer aquele seu amigo fiel à mesma marca de cerveja para todo o sempre de que ele não conhece “cerveja de verdade”… Aliás, cuidado com esse termo (cerveja de verdade)… Ele também está se desgastando e pode ser um tiro na culatra para as cervejas artesanais. Uma coisa é tentar mostrar às pessoas que existem muitos outros tipos de cerveja , atiçando nelas a curiosidade. Outra é catequizar jesuiticamente o brahmeiro de plantão. Pelo amor de São Gambrino! Lição de moral é uma das coisas mais chatas de se suportar! Sobre cerveja então… e no boteco??? É dose cavalar!

Caçadores de defeitos

Malice das malices é “ouvir dizer” que as cervejas podem apresentar beer-snobdefeitos, ou off-flavors. A partir daí, passar a ser um caçador incansável desses aromas indesejáveis encontrando-os mesmo onde não existem! E pior, ficar alardeando isso no bar, na festa, na internet! Haja paciência!!!!

O mesmo acontece com aquele degustador experiente, que tem conhecimento de causa e anos de janela… ficar  “decupando”cerveja numa mesa de bar??? Tô fora! Entra aqui o que citei anteriormente – cuspir regras é uma das beer-chatices que mais me incomodam!!!!

O chato da festa

É óbvio que o anfitrião queira agradar seus convidados servindo algo especial numa festa. Qual de nós já não passou por essa situação, de chegar à casa de alguém e ser recebido calorosamente com uma “cerveja especial”? Grande parte das vezes nos é servida uma cerveja de grande indústria que provavelmente não compraríamos, nem escolheríamos tomar. Mas — aqui é uma questão de educação — recusar, dizendo que aquilo não é cerveja, ultrapassa os limites das “beer-chatices” né?? O jeito é tomar sim e agradecer pela delicadeza! Em outra oportunidade, ao retribuir o convite desse seu amigo e recebê-lo em sua casa, sirva uma cerveja diferente, tente mostrar a ele que existem tantas opções bacanas. Na certa ele vai gostar e, quem sabe, querer conhecer esse vasto mundo da cerveja artesanal!

Bom, aqui eu listei algumas das “beer-chatices”que me incomodam. Convido você, leitor, a pensar nas suas e completar essa lista. É apenas uma brincadeira e um exercício para pensarmos mais no assunto!!

Pão e Cerveja para todos nós!!!

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* Fabiana Arreguy é jornalista e sommelier de cervejas pela Doemens-SENAC. Semanalmente, ela comanda a coluna Pão & Cerveja,fabianaarreguy que vai ao ar todas as sextas-feiras às 11:45 da manhã pela rádio CBN de Belo Horizonte (106,1 FM). Ouça ao vivo o programa ou curta os programas anteriores gravados e disponibilizados aqui no blog pelo BREJAS. Para a experiência ficar completa, acompanhe também o Blog Pão & Cerveja.

Nota do Editor: Assino embaixo do texto, sem ressalvas.


Comments

12 responses to “Beer-chatices: Como fugir delas”

  1. Serei o primeiro a colaborar com a lista, apontando um tipo especial de beer-mala: O chamado “Cervochato Reverso”.
    Cervochato Reverso é aquele cara apaixonado desde sempre pela sua cerveja de massa (o “torcedor de rótulo”), e fica dizendo que só ela presta, de preferência “estupidamente gelada”. Ao menor sinal de uma cerveja “diferente”, ele fecha a cara e sai no braço, dizendo que aquilo é “frescura”, coisa de gay, e que o que vale mesmo é a mais barata e mais gelada. Ele é o cara que acha adequado que a geladeira do bar marque 10 graus negativos no display de temperatura.
    Cervochatos Reversos geralmente nascem assim, mas há uma parcela que adquiriu a doença através de uma cerveja “diferente” que ele comprou em algum lugar sem a informação adequada, pagou mais caro, não gostou (por ser, afinal, diferente da “sua” cerveja) e agora usa-a como bandeira da sua reverso-chatice.
    Cervochatos reversos demandam toda a paciência do mundo. Jamais combata a cervochatia reversa com beer-malice. No mínimo, inviabiliza para sempre uma amizade ou, em casos mais extremos, leva um dos dois ao óbito.

  2. Petri Avatar
    Petri

    Ha, beerchato é como enochato, uma hora esse tipo de comportamento apareceria…
    Mas eu acho que espanto esse tipo de gente, quando eu vou sentir o cheiro de uma bebida eu quase enfio o nariz dentro do copo… (já sai com espuma da cerveja no nariz várias vezes haha)
    Harmonização ficando batida? cada um tem seu estilo de breja favorito, e acho que tem muito brejeiro que faz as suas próprias bebidas inusitadas (falafel, no molho de mostarda escura acompanhados de uma pale ale, eita tarde boa aquela)

    cheers

  3. Fala Mauricio! Como faço parte da tal turma formada por você no interior de São Paulo posso dizer… SOMOS cervochatos em potencial! Não por maldade ou vontade se sê-lo, mas porque saímos de lá tão empolgados em desbravar o conhecimento recém adquirido que frequentemente (e até durante a permanecia no curso) testemunhamos as caretas entre as outras pessoas participantes da roda onde distribuímos a nossa “cervochatice”… rs

    Com o passar do tempo as caretas vão diminuindo, no mesmo ritmo que nossa habilidade em passar conhecimento somente para quem esta interessado e aberto a recebe-lo vai aumentando.

    Em linhas gerais: Beba com todos, divirta-se sempre e beba cultura cervejeira, mas fale sobre ela só com quem quiser ouvir!!

    um grande abraço!!

  4. Grande Rafael,
    Entendo a empolgação de quem sai de um curso de sommelier. São muitas as informações passadas, e o novo profissional está com todo o gás para compartilhá-las. Isso é muito bom!!!
    Calma que você, com o passar do tempo, aprende a separar empolgação de cervochatice. hehehehh
    Um abração.

  5. Hoje mesmo me deparei com uma conversa tipica de cervochato falando que artesanais nao prestava que a dele era melhor e so bebia essa… mas conhecemos bem a figura e acabamos tirando sarro dele pq depois da 3 rodada ate suco de jilo ele bebia( fato)

  6. Como a Fabiana falou sobre harmonização acho que é uma mailce que vale a pena ser explorada. Tem gente que gosta de harmonizar tudo e, se não harmonizar, não pede a cerveja ou o prato.
    Essas horas sou a favor da zitolaricologia, que é abrir a geladeira, ver o que tem dentro e experimentar ara ver se combina. Nem sempre temos faisão gratinado para harmonização, né?

  7. Beltra,
    “nem tanto ao céu, nem tanto à terra”!
    ZHG é legal. Zitochato não é legal…
    http://telecerveja.blogspot.com/2011/08/zitoharmonizacao-gastronomica-zhg.html

  8. mauro ruellas Avatar
    mauro ruellas

    Nem tanto o céu,nem tanto o inferno;o importante é falar ás pessoas das diferenças e qualidades de uma boa cerveja,informação é a palavra chave;eu mesmo de 4 anos pra cá estou me beerevangelizando;antes me considerava um bebedor de cerveja(qualquer uma),hoje sou um apreciador da bebida.

  9. ney lira Avatar
    ney lira

    muito legal essa mensagem da fabiana, pois esse novo mundo que se abre para quem conhece os diversos sabores que as cervejas mais elaboradas ou artesanais nos proporcionam é realmente um caminho sem volta. mas temos que tomar muito cuidado com o que falamos aos que ainda não conhecem essas cervejas ou os que experimentam e nunca vão gostar, mas tomar essas cervejas de grandes indústrias é difícil demais.

  10. Eugênio Avatar
    Eugênio

    Excelente a idéia de levantar uma discussão sobre esse tema, ainda mais aqui no fórum. Não que ele seja um berço de “beer-chatos”, mas por talvez ser um lugar que de fato congrega muitos beer-evangelizadores radicais.
    Além da proposta do texto ser boa, a escrita dele também foi.
    Meus parabéns à autora!

  11. Tarcisio Avatar
    Tarcisio

    Há tempo escuto isso e concordo com tudo que foi dito. Agora, fazendo uma análise, o forum do Brejas está mais do que repleto de beerchatos. Eu era um deles e estou me policiando para ser menos, mas é difícil! 😉

  12. O grande problema de quem faz um curso ou está cursando um é acreditar que só quem faz ou já fez pode entender sobre cervejas. Evidente que é importante adquirir conhecimento e principalmente quando este é de excelente qualidade como os cursos de Sommeliers , contudo o estudo do mundo cervejeiro é algo que não se resume a meia duzia de palavras bonitas, ele requer dedicação diária e humildade para entender que sempre temos algo para aprender.Agora beerchatos sempre existirão infelizmente.

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