Acomodo-me na poltrona do teatro à espera da afinação da orquestra, que trina acordes desconexos. Faz-se o protocolo de entrada do maestro, aplausos, batidinhas de batuta a pedir atenção aos músicos. Silêncio. Vai começar a sinfonia.
Com suavidade, são as cordas que iniciam. No aroma, violinos… Notas vínicas assertivas, lembrando vinho do Porto. Frutas secas escuras, sobretudo uvas-passas. O tostado se faz presente, mas de forma lânguida, quase fugaz. As harpas trazem o acalento de se estar em uma cave de pedras. Um tênue mofo se faz sentir, lá no fundo, delicioso. De repente, eis que o piano chega à cena, portando consigo notas de maçãs, pêras, frutas vermelhas, tâmaras secas e delírio.
Um interlúdio e vamos às madeiras. As flautas, sempre doces, vêm ao paladar. Dulçores nobilíssimos misturam frutas passas, tostado, toffee. Clarinetes anunciam laranjas em compota. E alguém falou em tâmaras secas? No teatro imaginário onde estou, porto no bolso um saquinho contendo algumas. Peço licença ao vizinho de poltrona e tento a harmonização. Certeira! Como se a cerveja fosse feita da fruta.
Eis que a sinfonia se aproxima do final, e chegam os instrumentos de percussão. Tímpanos fazem aparecer mais laranjas, desta vez frescas. Bumbos chegam ao socorro, sempre afirmando os caracteres tostados e achocolatados. Címbalos de caramelos e ameixas. O regente comanda ás últimas notas, secas, inesquecíveis.
Saio do teatro já pensando na próxima sinfonia. Haverá?
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