Bières Brut, Parte V – O mercado brasileiro

Pode ir esquecendo a sua bière brut no final do ano... Fonte: www.canstockphoto.com.br
Pode ir esquecendo a sua bière brut no final do ano… Fonte: www.canstockphoto.com.br
É curioso que um estilo com raízes francesas e belgas tão fortes, unindo os métodos tradicionais de produzir cerveja e espumantes nesses dois países, tenha uma presença tão marcante no Brasil, país sem tanta tradição vinícola e cervejeira remontando ao passado. Algumas pessoas acreditam – e me parece plausível – que a elitização e a busca por consumidores de alta renda tenham sido uma forma da indústria cervejeira nacional de procurar inserção de mercado em uma conjuntura econômica de alta taxação, que impede a redução de preços, e de expansão dos mercados de luxo. As bières brut, com suas remissões a champagne e glamour, eram uma escolha certeira para atingir na mosca esse público. Não parece eloquente que o paralelo explícito com os champagnes (por meio do uso do termo “método champenoise”) tenha ocorrido justamente com os rótulos da Terra dos Papagaios, e não tanto com os belgas?
Um novo destino: o Brasil

Por Alexandre Marcussi*

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Esta matéria em nove partes sobre as bières brut foi escrita e publicada entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012 no blog O Cru e o Maltado, e agora está sendo republicada na íntegra, em versão revisada, no BREJAS.

Com a chegada do fim de ano, eu não poderia deixar de registrar algumas linhas sobre o estilo de cerveja mais associado às grandes festas e celebrações: as bièresbrut. Em suas encarnações belgas ou brasileiras, ela seguramente estará na mesa de vários amantes de cervejas artesanais neste réveillon. Curiosamente, o Brasil é um dos países que mais se destacam na produção deste elaborado estilo tipicamente belga, o que sem dúvida é motivo de orgulho e sinal de maturidade de nossa indústria – mas também deve ser um alerta para pensarmos um pouco. Abro aqui uma série de posts sobre as bièresbrut, com o objetivo não apenas de ajudar na escolha do rótulo mais adequado para cada um, mas também para incentivar uma reflexão sobre o significado que essas cervejas têm assumido no Brasil nos últimos anos. Comecemos pela última parte.
A celebração na mesa
O final de ano é a época em que fazemos uma pausa, tentamos passar em revista o ano que se foi e meditamos sobre o que virá. Invariavelmente, a época pede celebração, e as festas são ensejo para novas comidas, novas experiências: a despensa e a mesa se enriquecem com produtos que reaparecem magicamente nos supermercados em novembro para voltarem em janeiro ao seu silencioso exílio, como as castanhas portuguesas com as quais pretendo, mais uma vez, tentar fazer marron glacé. Tentar. Pela terceira vez.
Esse momento de reorganização da vida e do nosso ritmo cotidiano é marcado com uma dieta diferente, a das grandes festas, que quebra o ciclo da alimentação cotidiana e instaura uma ruptura do tempo “normal” de nossas vidas. Novas comidas, e também novas bebidas para marcar, na mesa, esse novo tempo que se vive. Não podem faltar asbebidas normalmente dedicadas às celebrações, em especial o espumante – seja o tradicional champagne para os mais abastados, seja um vinho frisante de qualquer outra procedência ou mesmo uma sidra popular. Em contraste com a corpulência dos vinhos tintos mais gordos, a leveza quase diáfana dos espumantes convida-nos a esquecer nossas preocupações por um instante, e a sensação frisante brinca com nossa sensibilidade e nos torna mais receptivos ao novo, ao alegre.
Claro que celebrações também são momentos de dispormos das riquezas que acumulamos para contentar nossos entes queridos – ou para nosso próprio contentamento autoindulgente. Entre os povos nativos da costa oeste norte-americana, era comum a realização de cerimônias periódicas conhecidas como potlatch, em que os chefes mais ricos distribuíam presentes e, eventualmente, até mesmo desperdiçavam intencionalmente e destruíam riquezas. Será que nossas suntuosas festas de fim de ano ou as de casamento que alguns anfitriões abastados preparam não têm uma função semelhante? Sem dúvida têm, mas com uma diferença: numa sociedade baseada na troca e na reciprocidade, como é o caso dos indígenas norte-americanos, o potlatch funciona como momento privilegiado de união entre as pessoas e de acesso a produtos escassos. Já na nossa sociedade de mercado consumista, festas suntuosas adquirem o papel de ostentação de riqueza e demarcação de hierarquias de status.
Seja como for, esse período está – para o bem e para o mal – associado à fartura: ao seu desfrute e também à sua ostentação. Por isso, as bebidas da época assumem uma aura de sofisticação e de riqueza: quem poderá negar que, entre todos os tipos de vinho, os champagnes são os mais rodeados de uma aura de glamour? Quanto mais caro, aliás, maior é o status de quem oferece (ou, pior, bebe solitariamente) a garrafa. Para alguns consumidores, isso parece influenciar a percepção de preços de tais produtos. As pessoas parecem se esquecer de que o alto preço final doschampagnes para o consumidor está ligado aos altos custos envolvidos em sua fabricação (voltaremos a esse ponto nos próximos posts), e parecem acreditar que está antes ligado a esse suposto glamour da bebida, levando a todo tipo de mistificação, esnobismo e abuso. Quem está mais preocupado em usar a bebida para ostentar a riqueza acaba, no fundo, bebendo dinheiro. Não importam as qualidades do que se bebe: importa o quanto custou. Numa curiosa inversão, quantomais caro, melhor é o custo-benefício (!): afinal, o objetivo não é pagar pouco por um produto de qualidade, mas pagar muito por um produto, qualquer que seja sua qualidade.
Nós, amantes de cervejas, frequentemente nos lamentamos pela diferença de percepção e julgamento que as pessoas ainda parecem fazer a respeito de vinhos e cervejas. Muitos consideram, ainda hoje, a cerveja como a “prima pobre” dos vinhos: mais barata (embora saibamos que nem sempre é esse o caso) e, consequentemente, menos interessante e refinada. Produto do mesmo pensamento tosco, ostentatório e simplista típico de uma cultura embasbacada com seu recente acesso ao mundo do consumo de luxo. Babaquices do Brasil do século XXI, em suma. Muitas vezes, saímos em defesa de nossas queridas cervejas, advogando que tenham o mesmo status concedido ao nobre fermentado de uvas. Questiono-me se essa paridade realmente é a melhor estratégia. Às vezes, equiparar cervejas e vinhos pode ser um tiro pela culatra: podemos absorver o melhor, mas também podemos ser presenteados com o pior da cultura enófila brasileira. E, infelizmente, esses fetiches perversos que rondam os vinhos nas festas de fim de ano em nossa sociedade consumista parecem estar também contaminando nossas cervejas.
As bièresbrut, nesse mercado de luxo que tem se tornado o segmento das cervejas ditas “especiais”, estão assumindo as características associadas ao champagne – as boas e as ruins, indistintamente. A comparação se impõe quase naturalmente: ambas as bebidas usam o mesmo método de produção, o chamado método champenoise, aprimorado pelo abade Dom Pérignon no século XVII e por Nicole Ponsardin, a célebre viúvaCliquot, no início do século XIX. Na verdade, as cervejas, em especial as da escola belga, guardam muito mais semelhanças com oschampagnes do que se poderia supor a princípio. Voltaremos a isso mais tarde. Mas o fato é que, quando surgiu em 2002 a primeira representante deste novo estilo cervejeiro, a belga Deus, ela foi apresentada imediatamente como um “champagne das cervejas”, servida inclusive na tradicional taça doschampagnes(a “flauta”). O mesmo marketing foi aplicado aos rótulos brasileiros, inclusive. Como resultado, a comparação com os champagnes se consolidou definitivamente.
Como para confirmar essa vinculação, a cerveja Deus estabeleceu um novo patamar de preços. Na Europa, a garrafa de 750ml custa em torno de € 15-20. No Brasil, como se sabe, é corriqueiro encontrá-la acima dos R$ 200, o que corresponde à faixa de preços de um champagne mais comercial, como o Moët&Chandon ou o VeuveCliquotPonsardin. Outras bièresbrut, mesmo as nacionais, normalmente ultrapassam os R$ 100, com a exceção feita à versão mais comercial da EisenbahnLust. Isso as torna vítimas fáceis daquele fetichismo e daquela inversão de preços que comentei em relação aochampagne: paradoxalmente, a Deus é uma cerveja que vende muito bem no Brasil – não apesar do seu preço, como se poderia pensar, mas justamentepor causa dele! Na estúpida lógica do quanto mais caro, melhor, esses rótulos catapultaram automaticamente as cervejas para um novo patamar dentro do mercado de luxo nacional. Os importadores e produtores têm, compreensivelmente, explorado com avidez esse novo e lucrativo nicho de mercado que se abriu para as cervejas, mas será que não existem alguns prejuízos desse tipo de inserção de mercado para um produto como uma cerveja? Não se trata de uma inserção conquistada gradativamente a partir das qualidades organolépticas e sensoriais do produto e da experiência pessoal de vários consumidores, mas de uma mera estratégia de precificação. Posicionamento superficial, frágil, sujeito a todo tipo de abalos.
Ironicamente, quem sai perdendo com todo esse fetichismo não são (apenas) os consumidores: são as próprias cervejas. Quando se paga um valor tão alto por uma garrafa, é muito difícil evitar que uma série de expectativas se coloque entre nós e o líquido dentro do nosso copo – expectativa que, às vezes,cerveja nenhuma seria capaz de cumprir. Muitas vezes, o preço é tudo o que as pessoas conseguem degustar ao tomar essas cervejas, em prejuízo de toda a riqueza sensorial que elas podem nos oferecer se estivermos receptivos. É comum ouvir relatos de apreciadores de cervejas que se decepcionaram ao beber uma Deus. Pelo preço que pagaram, “exigiam” que fosse a “melhor cerveja” que já tomaram (de acordo com aquilo que elesachamque deveria ser a “melhor cerveja”), a mais marcante, a mais impactante, demandando dela características que o estilo não pretende oferecer.  Ora, asbièresbrutjamais se propuseram a ser cervejas impactantes e marcantes! Por conta do seu processo de produção, elas primam justamente pela sua delicadeza. Além disso, apesar de sabermos pelo nosso bolso que o dinheirotem uma escala quantitativa absoluta, o prazer oferecido por uma cerveja é sempre relativo. Em outros termos, embora possa perfeitamente existir “a cerveja mais cara” do mundo, não existe nem jamais existirá “a melhor cerveja” do mundo – ainda bem.
As bièresbrut, no fim das contas, acabam vitimadas pela própria faixa de preço em que se encaixam, impedidas de serem corretamente avaliadas de acordo com a sua proposta. O apreciador de cervejas que paga seu preço exige “a melhor cerveja que já bebeu” (o que é uma besteira), e o consumidor mais eclético exige que ela seja umchampagne(coisa que nunca será, pois é uma cerveja). Seus verdadeiros encantos, por isso, muitas vezes continuam secretos. Nas próximas partes deste artigo, explorarei o processo de produção dessas cervejas, falarei sobre sua proposta sensorial e finalizarei com uma comparação dos cinco rótulos disponíveis no mercado nacional: Deus Brutdes Flandres, EisenbahnLust, EisenbahnLust Prestige, MalheurBièreBrut e WälsBrut. Espero poder varrer a grossa camada de fetichismo que recobre essas cervejas para deixá-las falarem por si mesmas, sem o auxílio da etiqueta de preços, e para apreciar seu brilho delicado, próprio e radiante, escondido por baixo de tanto esnobismo.
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É curioso que um estilo com raízes francesas e belgas tão fortes, unindo os métodos tradicionais de produzir cerveja e espumantes nesses dois países, tenha uma presença tão marcante no Brasil, país sem tanta tradição vinícola e cervejeira remontando ao passado. Algumas pessoas acreditam – e me parece plausível – que a elitização e a busca por consumidores de alta renda tenham sido uma forma da indústria cervejeira nacional de procurar inserção de mercado em uma conjuntura econômica de alta taxação, que impede a redução de preços, e de expansão dos mercados de luxo. As bières brut, com suas remissões a champagne e glamour, eram uma escolha certeira para atingir na mosca esse público. Não parece eloquente que o paralelo explícito com os champagnes (por meio do uso do termo “método champenoise”) tenha ocorrido justamente com os rótulos da Terra dos Papagaios, e não tanto com os belgas?

Um novo destino: o Brasil

No Brasil, o estilo foi introduzido pela cervejaria Eisenbahn com sua linha denominada Lust (em alemão, “prazer” ou ”vontade”). A cervejaria de Santa Catarina foi a primeira a invocar a denominação “método champenoise”, em destaque no rótulo, para denominar o estilo e catapultá-lo direto para o mercado de luxo. A Eisenbahn Lust usa a mesma receita da Eisenbahn Strong Golden Ale, mas a cerveja é enviada para a vinícola San Michele (em Rodeio/SC) para a maturação em cave, a remoção e a expelição.
Assim como as grandes vinícolas normalmente produzem dois rótulos diferentes de champagne (o champagne comum e o champagne millesimé), a Eisenbahn lançou uma versão “comum” da Lust, que passa por três meses de maturação, e a versão de luxo denominada Lust Prestige, que passa por um ano de maturação (mais ou menos o mesmo que a Deus, e que a maior parte dos champagnes comuns). Como vimos, a autólise começa a se intensificar a partir do 9º mês de maturação; podemos concluir com alguma segurança, portanto, que a Eisenbahn Lust tem poucas características de autólise, ao contrário da versão Prestige. A produção de dois rótulos diferentes fez com que a Eisenbahn conseguisse oferecer um produto a preços mais competitivos para “penetração” no mercado (a Eisenbahn Lust é a bière brut mais barata – ou melhor, menos cara – do mercado nacional) sem abdicar de um rótulo de luxo produzido com mais cuidado.
Maturação e remoção da Eisenbahn Lust na vinícola San Michele. Fonte: Edu Passarelli Recomenda
Maturação e remoção da Eisenbahn Lust na vinícola San Michele. Fonte: Edu Passarelli Recomenda
Como se não bastasse, em 2011 foi lançado um segundo rótulo do estilo produzido no Brasil, desta vez por uma cervejaria especializada na produção de estilos belgas: a Wäls, de Minas Gerais. A ideia surgiu de um desafio feito a José Felipe Carneiro, responsável pela produção de cervejas da Wäls, pelo seu irmão Tiago (também proprietário da cervejaria): ele seria capaz de produzir uma cerveja como a Eisenbahn Lust Prestige? Muito estudo e algumas tentativas depois, surgia a Wäls Brut. A cerveja apela para a mesma denominação champenoise já usada pela Eisenbahn. Sua produção usa como base um blend preparado com 70% da tripel da marca e 30% de uma receita exclusiva, e ela passa por maturação na garrafa durante 9 meses – tempo necessário para começar a se intensificar a autólise das leveduras. Assim como a Malheur, a Wäls optou por realizar todas as etapas do processo em sua própria fábrica – mas, ao contrário da cervejaria belga, faz tudo manualmente. Em 2011, a cervejaria iniciou reformas para ampliar as caves de produção da Wäls Brut, indicando um maior investimento neste que já é seu rótulo de mais alto padrão. Entre suas concorrentes diretas, a cerveja se diferencia especialmente pelo licor de expedição, que, em vez de ser um líquido açucarado, é a própria cerveja usada como base, resultando num produto final levemente mais seco. Talvez devamos considerar que, se as demais bières brut podem ser classificadas como “brut”, a Wäls Brut seria uma “extra brut” (um pouco mais seca).
É só isso? Quase, por mais improvável que possa parecer. Há poucas cervejas produzidas no estilo ao redor do mundo. Além das quatro marcas já citadas (disponíveis no mercado nacional), o site norte-americano Beer Advocate indica outros rótulos sob a denominação de estilo “bière de champagne / bière brut”, mas nem todos com o teor alcoólico ou o perfil do estilo consagrado pela Deus. Entre as que mais parecem se adequar ao perfil das marcas belgas, podemos citar a canadense Dominus Vobiscum Brut, da microcervejaria Charlevoix, e a italiana L’Equilibrista, da cervejaria Birra del Borgo. De qualquer forma, considerando-se o berço belga do estilo, o Brasil, com as particularidades do seu mercado de luxo de cervejas, tem se destacado mundialmente na produção do estilo, com o mesmo número de marcas que na Bélgica!
José Felipe Carneiro mostra, orgulhoso, a primeira safra da Wäls Brut passando pela remoção. Fonte: Edu Passarelli Recomenda
José Felipe Carneiro mostra, orgulhoso, a primeira safra da Wäls Brut passando pela remoção. Fonte: Edu Passarelli Recomenda

E os preços?

Esta é a clássica questão, invariavelmente levantada quando o assunto são as bières brut. Por que elas custam tão mais caro que os demais estilos (salvo talvez algumas lambics importadas e alguns rótulos excepcionais pela sua raridade ou seu teor alcoólico elevado)? Parte substancial da resposta, é óbvio, encontra-se no método champenoise, principalmente na longa maturação em garrafa e nas trabalhosas etapas da remoção e expelição, quando realizadas manualmente (garrafa por garrafa).
Mas isso justifica tanta diferença? Não possuo uma cervejaria e nunca ousei produzir as danadas, então é um pouco difícil dar uma resposta definitiva para isso. É preciso lembrar que, para além do tempo e do trabalho gastos com o processo produtivo, as bières brut requerem infraestrutura específica apenas para sua produção (ou o aluguel de uma infraestrutura alheia, como é o caso da Bosteels e da Eisenbahn). E, é claro, existe o direcionamento desses rótulos para ocasiões especiais e para um público de maior poder aquisitivo (trata-se dos produtos de luxo de suas cervejarias), estimulando uma precificação em faixa superior. A Wäls Brut, por exemplo, é comercializada em uma caixa de luxo artesanal cujo custo é de R$ 18. É claro que isso gera um impacto no preço final. José Felipe Carneiro, responsável pela produção das cervejas da Wäls, já afirmou que a caixa faz parte da experiência do produto – porque, infelizmente, não se trata apenas da cerveja, mas também da aura de sofisticação e glamour que o consumidor espera dela. Será que podemos culpar exclusivamente o produtor se é isso que o consumidor espera do produto? Mais uma vez, são as bières brut as maiores prejudicadas pelo prestígio associado ao estilo.
Por mais difícil que seja ponderar todos esses fatores para avaliar o preço final das cervejas do estilo, não custa fazermos, de novo, a comparação com os vinhos: as vinícolas nacionais da Serra Gaúcha conseguem colocar no mercado bons espumantes produzidos pelo método champenoise na faixa dos R$ 30-40. Veja, estamos falando de vinhos, que são mais caros para se produzir do que cervejas, a princípio (já que 90% do volume de matéria-prima da cerveja é água). O espumante Valduga Arte, por exemplo, passa por 12 meses de maturação com leveduras (o mesmo que a Eisenbahn Lust Prestige) e sai por menos de R$ 35. Como eu afirmei, é difícil fazer especulações e ainda mais difícil comparar o volume de produção de uma vinícola como a Valduga e uma microcervejaria como a Wäls, mas me parece que não se pode creditar o alto preço das bières brut exclusivamente ao processo de produção.
Na próxima parte deste artigo, finalmente comentaremos um pouco sobre as características sensoriais do estilo. Trocando em miúdos: depois de saber tudo isso, afinal de contas, como uma bière brut se apresenta na minha boca? Não perca!
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alexandremarcussi
* Alexandre Marcussi é sommelier de cervejas pelo SENAC/Doemens Akademie e historiador especializado em História Cultural. Acredita que a cerveja e a cultura se complementam deliciosamente, e põe este princípio em prática em seu blog O Cru e o Maltado.