Festival cervejeiro em Blumenau privilegia produções nacionais
Já estive em alguns festivais cervejeiros pelo mundo, e posso afirmar de cadeira que o Festival Brasileiro da Cerveja, cuja última edição aconteceu semana passada em Blumenau (SC) é um dos maiores, mais organizados e, por tabela, um dos mais legais do planeta. O que é um espanto, já que o Festival é quase exclusivamente voltado para as cervejas especiais — ou, no jargão do mercado especializado, “super premiums” — e o Brasil não responde sequer a 1% das vendas dessas cervejas em relação com todas as demais (para efeito de comparação, o aquecido mercado norte-americano de “super premiums” atinge mais de 6%).
Quem faz a festa são, claro, os cervejeiros. Mas os responsáveis pelo sucesso do Festival, idealizado há anos por Juliano Mendes (ex-proprietário da Cervejaria Eisenbahn), são mesmo os organizadores, que ano após ano demonstram competência ímpar pra colocar o bonde nos trilhos, como Norberto Mette, Valmir Zanetti, Cristina Miranda, Georgia Rublesch e tantos outros.
A festa
Com mais de 80 expositores e quase 600 rótulos para serem degustados, o evento é o Nirvana pra qualquer degustador. Neste ano consagraram-se os copinhos de 100 mililitros, servidos em todos os stands, privilegiando a degustação em pequenas quantidades de cada rótulo, evitando a bebedeira desenfreada. O evento é claramente direcionado a um público mais maduro e avesso a arroubos micareteiros. A fim de diferenciá-lo da Oktoberfest, que ocorre no mesmo local, a organização sequer convoca bandas alemãs.
O resultado é o esperado. Já no último sábado as catracas contabilizavam mais de 27 mil visitantes — 30% a mais do que na edição anterior — que confraternizavam em clima eminentemente familiar, a demonstrar o interesse crescente do público em degustar cervejas diferentes.
O I Concurso Brasileiro de Cervejas
Já há algum tempo, o chamado “meio cervejeiro” nacional vinha considerando a ideia de um concurso que confrontasse somente as produções brasileiras. Isso só não tinha sido ainda feito em razão da então parca produção tupiniquim, a injustificar uma competição desse porte. O próprio tempo encarregou-se de eliminar essa barreira, dada a recente explosão de rótulos nacionais, e assim nasceu o I Concurso Brasileiro de Cervejas.
Fui um dos vinte jurados da competição, e constatei in loco a extrema organização e lisura do Concurso. Havia cervejeiros entre os juízes, mas estes não julgavam seus próprios rótulos, no que as composições das mesas de julgamento, cada uma com 5 juízes, eram constantemente alteradas em razão de cada um dos 68 estilos avaliados. Em testes-cegos, foram meticulosamente avaliadas 215 cervejas, de 42 cerverjarias distribuídas por 4 Estados brasileiros (veja o quadro de medalhas AQUI).
Durante o Festival, muito se comentou nas mídias sociais sobre as cervejarias “estrelas” da vez, como as Bodebrown — todos os rótulos ganharam medalhas, e a cervejaria curitibana foi eleita a Cervejaria do Ano –, Morada, Way, Invicta e tantas outras, a maioria calcando na inovação de estilos, com cervejas realmente maravilhosas. Todavia, destaque também seja dado à melhor cerveja do certame, cujo título ficou com a Wäls Pilsen, de um estilo até pouco tempo rechaçado por muitos como “comum demais”. A eleição da breja — da qual já falo há muitos anos como, na minha opinião, a melhor Pilsen do Brasil — se deu pela somatória absoluta dos pontos obtidos na mesa de julgamento, e veio comprovar o amadurecimento dos julgadores e, porque não, do mercado como um todo, o qual finalmente enxerga cada estilo em sua peculiaridade. Como deve ser.
Em um Concurso exclusivamente brasileiro no qual nos olhamos no espelho, a imagem que vimos foi, enfim, bela.
Mais crescimento à vista
Na edição do ano que vem, que ocorrerá entre os dias 12 e 15 de março de 2014, os organizadores pretendem duplicar o espaço, tomando mais um dos pavilhões do Parque Vila Germânica. Com isso, esperam-se mais cervejarias e demais expositores, os quais tiveram neste ano que correr pra garantirem seus stands. Não se sabe quais as proporções que o Fesrtival Brasileiro da Cerveja tomará daqui em diante. De qualquer forma, num país cuja bebida é a cerveja e o esporte é a curiosidade, coisa pouca jamais será.
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