Vitória contra o exclusivismo

Cade aplica multa recorde de R$ 352 milhões a AmBev

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O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) condenou por unanimidade nesta quarta-feira a AmBev a pagar multa de R$ 352,6 milhões por prejudicar a concorrência no mercado de cerveja. A multa é a maior da história do conselho –até agora a maior multa havia sido aplicada contra a Gerdau, de R$ 156 milhões por formação de cartel na venda de aço.

A AmBev foi condenada por exigir exclusividade dos seus produtos em pontos de venda e inibir a venda de outras marcas. O Cade entendeu que isso prejudicou as outras marcas de cerveja e o consumidor. O valor corresponde a 2% do faturamento bruto da empresa no ano de 2003, anterior à instauração do processo.

“Os consumidores são os mais prejudicados. Não terão eles nem a variedade nem os preços desejados”, afirmou o relator do processo, Fernando de Magalhães Furlan.

O processo contra a AmBev foi aberto em 2004 depois de denúncia da concorrente Schincariol contra os programas de fidelização de pontos de vendas “Tô Contigo” e “Festeja”. A Schincariol acusava a Ambev de oferecer a bares, mercearias e supermercados acordos de exclusividade, descontos e bonificações para que os pontos de venda comercializassem as bebidas da empresa, prejudicando, assim, a venda das marcas concorrentes.

Segundo a Schincariol, os programas da AmBev reduziram a participação de mercado das cervejas Nova Schin e Kaiser em 20% cada, elevando a participação da marcas da Ambev em 8,5%, tendo a Antarctica aumentado sua participação em 56,37%.

Segundo relatório da SDE (Secretaria de Direito Econômico), do Ministério da Justiça, responsável pela instrução do processo, os programas de fidelização podem prejudicar a concorrência, fechar mercados e elevar os custos das marcas rivais. A secretaria diz que há fortes indícios de que os programas prejudicam a concorrência, “dificultando o acesso de novas cervejarias ao mercado e criando dificuldade ao funcionamento dos concorrentes já estabelecidos por meio da exclusividade dos pontos de vendas”.

A SDE fez várias inspeções e até uma pesquisa elaborada pelo Ibope com pontos de vendas para levantar irregularidades. Para o órgão, haveria a imposição de exclusividade aos vendedores que entrassem no programa ou a limitação na comercialização de marcas concorrentes. Em troca, os vendedores poderiam comprar as cervejas AmBev por preços mais baixos. De acordo com o relatório, a empresa chegava a fiscalizar os freezers dos pontos de venda para checar se não havia marcas concorrentes.

Segundo a secretaria, o programa “Festeja” determinava que os pontos de venda reduzissem o preço das cervejas da AmBev em pelo menos R$ 0,11 durante a semana e R$ 0,21 nos fins de semana, impondo aos vendedores margens de lucros menores.

A secretaria, assim como a Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico), do Ministério da Fazenda, e a procuradoria do Cade recomendaram ao conselho a condenação da AmBev. A multa poderia chegar a 30% do faturamento da companhia.

A AmBev alegou que os programas de fidelização eram legais e que beneficiavam o consumidor e ao ponto de venda. “Ao primeiro, porque poderia adquirir produtos com desconto, e, ao segundo, por receber material publicitário específico que lhe permitiria alavancar suas vendas”, afirmou a empresa.

Segundo a AmBev, não houve nenhum tipo de sanção aos pontos de vendas que aderiram aos programas e continuaram vendendo outras marcas. A empresa admitiu, porém, que, na primeira fase do programa “Tô Contigo”, se algum ponto de venda comercializasse outras marcas, “era desligado porque não mais se enquadrava no perfil.

Ontem, a AmBev ofereceu ao Cade a assinatura de um TCC (Termo de Compromisso de Cessação de Prática), mas o conselho se recusou a assinar o acordo.

Fonte: Folha Online


Comments

2 responses to “Vitória contra o exclusivismo”

  1. Marcio Rossi Avatar
    Marcio Rossi

    É um avanço a ser comemorado. Motivar é legal. Impor não. O consumidor tem o direito de escolher o que deseja consumir e é lamentável que estabelecimentos imponham suas marcas ou aquelas associadas ao clientes. A prática é comum, longe de ser exclusividade da Ambev. Motivar é legal. Impor não.

    E independente do que deseja o fornecedor, deve ser o consumidor a decidir o que deseja consumir. Vc entra em um bar, só tem Ambev. Entra em outro, só tem Femsa e cia (Kaiser, Sol, Bavaria e Heineken). Vai ao Pizza Hut, só Pepsi.

    Enquanto isso, nos EUA, vc entra em um bar comum e encontra 10 bicas de choppe desfilando lado a lado produtos de cervejarias concorrentes. É a capital mundial do consumo. E exatamente por isso a nova revolução cervejeira tem lá uma força incomparável. Reproduzo trecho do prefácio de de Sam Calagione (Dogfish Head Craft Brewery) em The Beer Book:

    “…A melhor parte dessa renascença (além da gloriosa cerveja em si) é que ela não foi fundada por campanhas publicitárias de meio bilhão de dólares de algumas poucas macro cervejarias. Ela foi abastecida por você: o amante da cerveja. Esse tem sido realmente um movimento internacional das periferias onde consumidores votaram com seus bolsos por mais opções, mais diversidade e mais sabor…”

  2. Renato Vialto Avatar
    Renato Vialto

    Só temos que comemorar, logico que agora poderemos encontrar ambev e fensa no mesmo bar, naumq ue isso seja bom pela parte da qualidade da cerveja, mas sim eh bom pa rao mercado =]=]=]. quem sabe daqui pra frente a disputa de-se na melhora dos pdorutos e naum em praticas ilegais como essas

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