Por Jean Benetti.
Em uma viagem a passeio pelo Peru para celebrar o reveillon 2009-2010, ficando 7 dias, pude conhecer de perto a cultura daquele povo. Eu, minha esposa Daniela e minha cunhada Hellen. Ficamos na casa da família de uma amiga peruana, Mev, que morou até outubro de 2009 em São Paulo com a Hellen enquanto fazia seu doutorado. Claro que eu estava ansioso para conhecer as cervejas peruanas, as quais pesquisei anteriormente na internet e no site do Brejas. Mas, mais do que isso, conheci a cultura acerca das cervejas, o que considerei até mais importante.
Minha experiência começou ainda no avião da TACA peruana, quando pedi uma cerveja e veio uma Brahma. Inicialmente fiquei decepcionado, pois se tratava de uma “brazilian corn beer” e eu queria pelo menos uma “corn beer” peruana. Mas logo percebi que se tratava de uma Brahma peruana. A ficha não poderia ter demorado a cair, pois eu já havia bebido a Brahma outrora na Argentina em 2007 e no Chile em 2008.
Assim que cheguei ao Peru dia 26, ainda meio perturbado pelo fuso horário, pois para nós seria meia-noite, enquanto lá ainda eram nove da noite, nosso motorista oficial em Lima, Michael, irmão da anfitriã Mev, veio trazendo em suas mãos uma cerveja Cristal, a mais bebida pelos peruanos, pelo que pude constatar.
Michael então me ensinou o que achei mais interessante: a maneira como os amigos tomam cerveja. Naquela hora confesso que não entendi bem o ritual. Ele encheu o copo, passou-me a garrafa, bebeu a cerveja e balançou o copo em direção ao chão para que o líquido do fundo do copo fosse dispensado, entregou o mesmo copo em minhas mãos. Eu enchi o copo e logo em seguida ele pegou de volta a garrafa enquanto eu bebia, desta vez ele ficou com ela nas mãos para que eu degustasse minha primeira breja em solo peruano.
A cerveja Cristal é uma Standard American lager de 5,0% de álcool, a garrafa (Botella em espanhol) possui 650ml. É mais amarga e ligeiramente mais encorpada que as nossas. Os peruanos consideram a cerveja brasileira aguada, podendo falar nos dias de hoje com propriedade, pois a Brahma está lá há alguns anos. Realmente eu concordo com eles nesse ponto de comparação das Standard.
No outro dia, estivemos na casa do cunhado da Mev, Rolando, vizinho da casa em que ficamos. Era seu aniversário. Almoçamos e ficamos para a festa de aniversário onde pudemos tomar várias e inusitadas bebidas: – Leite de tigre, é um caldo de peixe quente muito apimentado com amendoins; – Chicha morada, é um suco de milho roxo (variedade de milho peruano), o milho é cozido e o caldo depois de frio é adoçado, delicioso; – Inca-Kola, refrigerante amarelo-ouro e o mais consumido no Peru, desbancando até a Coca-Cola; – Pisco sour, bebida típica do Peru, feita de pisco (pinga da casca da uva), suco de limão, açúcar cristal e gelo, tudo batido no liquidificador e depois uma pequena pitada de canela por cima.
Finalmente chegamos à parte importante: a cerveja. A sala estava cheia de convidados e desta vez enfim eu entendi o ritual peruano para tomar cerveja entre amigos.
Colocamos a cerveja em nosso copo e passamos a garrafa para o próximo da roda que vai beber, este segura a garrafa até que terminamos de tomar, em seguida passamos O MESMO COPO para o amigo que segura a garrafa, ele enche então o copo passando novamente a garrafa para o próximo da roda que vai beber e assim sucessivamente. Caso haja uma mulher na roda, o homem deve segurar a garrafa para ela, a menos que ela queira ficar com a garrafa.
É o mesmo copo pra todo mundo. Eu como odontólogo poderia ter me desvencilhado do ritual, mas claro que eu quis entrar de cara na cultura peruana e não me importei. Quando tem muitos amigos na roda, normalmente eles tomam rápido para que o pessoal não espere muito e isso acaba contribuindo para que fiquemos bêbados com esses grandes goles. A cerveja esquenta um pouco com esse troca-troca e a garrafa sempre na mão de alguém, mas eles dizem que é bom para sentir o sabor da cerveja. Convenhamos, eles estão quase certos, apesar da cerveja deles ser mais amarga, continua sendo uma Standard American Lager.
Nesse mesmo dia, fui ao supermercado Plaza Vea e comprei uma garrafa de cada cerveja peruana que vi pela frente, além de algumas importadas por preços bem reduzidos comparados aos nossos aqui no Brasil.
Depois deste dia, segui 400km em direção ao sul de Lima e conheci as cidades de Pisco (reserva de Paracas, Islas Ballestras), Ica (deserto de Huacachina, oásis de Huacachina), Nazca (voo pelas linhas gigantes de Nazca). Foi uma aventura e tanto, mas como o que importa aqui é cerveja, estas eu deixei em Lima me esperando por três dias. Claro que neste passeio fui degustando cada uma que via pela frente. Uma delas foi a Cusqueña na beira do Pacífico a qual permitimos que nosso motorista do táxi, Sr. Pancho, tomasse um copo.
No Peru existe uma grande indústria cervejeira responsável por 85% do mercado nacional, a Backus. Eles foram aos poucos comprando as principais cervejarias do país, algo muito parecido com a AmBev aqui no Brasil. Estive no portão da Backus, mas não pude entrar devido ao grande esquema de segurança.
Depois que retornei à Lima pude degustar todas as cervejas e documentá-las com muito cuidado. Infelizmente, devido a correria da viagem, apesar de 1 semana, não pude visitar locais especializados em cerveja, tal como o Rinconzito Cervecero e outros mais, inclusive apontado pelo confrade Marcelo Vodovoz no dia do 1º encontro do Brejas. Apesar disso não perdi tanto, cervejas artesanais peruanas não são comuns, nesses locais eu encontraria muitas importadas, a grande vantagem ficaria no preço. Deixei de experimentar algumas Standard ou Premium American Lager regionais, como por exemplo a Arequipeña da região de Arequipa, ou a Iquiteña da região de Iquitos que talvez eu encontrasse nesses locais especializados.
Ao final da viagem bebi ao todo somente 13 cervejas peruanas: Cristal, Cusqueña Premium, Cusqueña Malta, Cusqueña de Trigo, Cusqueña Red Lager, Pilsen Callao, Pilsen Polar, Franca, Barena, Quara, Trujillo, Brahma e Zenda; além de algumas importadas. Todas as cervejas e minhas impressões foram incluídas no ranking do Brejas. Minha preferida foi a Cusqueña Red Lager.
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