A apreciação por adolescentes de propagandas de cerveja veiculadas em televisão pode estar vinculada à repetição de exibições e ao erotismo, de acordo com estudo de psiquiatras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Dessa forma, quanto mais vezes determinado anúncio fosse assistido, mais atraente ele seria considerado por estudantes de Ensino Médio, com idade entre 14 e 17 anos, moradores de São Bernardo do Campo. Este foi o público avaliado pelo trabalho paulista, cujos resultados estão publicado na edição deste mês dos Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Alan Vendrame, Ilana Pinsky e Roberta Faria, do Departamento de Psiquiatria e Rebeca Silva, do Departamento de Medicina Preventiva, autores do estudo em questão, avaliaram a relação entre apreciação das propagandas televisivas de cerveja, exposição a essas propagandas e consumo de álcool entre 133 alunos de escolas públicas. Para isso, 32 vídeos de comerciais recentes foram exibidos.
Para cada propaganda, os avaliados atribuíram uma nota (de 0 a 10), representando a apreciação, e responderam quantas vezes já tinham assistido, indicando o grau de exposição. Além disso, foram questionados quanto à frequência do consumo de álcool. Os resultados obtidos mostraram que 82,7% dos estudantes relataram já ter experimentado bebidas alcoólicas, dentre os quais 44,4% referiram consumo com certa freqüência: 30,1% pelo menos uma vez ao mês e 14,3% aos finais de semana. No Brasil, a venda de bebidas alcoólicas é proibida a menores de 18 anos.
Em relação à exposição prévia às propagandas, 79% deles já haviam assistido pelo menos uma das 32 exibidas 10 vezes ou mais, e dois terços dos jovens viram ao menos uma das cinco com maior apreciação mais de dez vezes. Apesar das evidências da relação entre níveis elevados de exposição e de apreciação, os pesquisadores evitam conclusões precipitadas.
“O desenho da pesquisa não possibilitou saber qual o sentido desta relação: se os adolescentes assistem mais vezes – ou prestam mais atenção – aos comerciais que eles gostam, ou eles acabam gostando de certas propagandas por causa da quantidade de vezes que as assistem”, dizem, sugerindo, entretanto, ser provável que os dois caminhos sejam verdadeiros no caso da propaganda de cerveja no Brasil. “Em pesquisas de mercado as propagandas de cerveja estão, via de regra, entre as mais apreciadas.
E em relação à exposição, recente levantamento nacional encontrou altos índices de exposição de adolescentes à publicidade de bebidas alcoólicas”, argumentam. Quanto aos temas presentes nas propagandas de cerveja, os relacionados a humor e erotismo lideraram nos índices de apreciação, ao passo que, em último lugar, o roteiro da propaganda apelava para a maior pureza da água utilizada para fabricar a bebida da marca em questão. “Isso talvez possa explicar, em parte, a existência da relação entre exposição e nota de apreciação. Inversamente, a última colocada, por exemplo, destacou a pureza da água como tema do comercial”, dizem.
Segundo a Lei n° 9.294, de 15 de julho de 1996, que dispõe sobre as restrições à propaganda de bebidas alcoólicas, anúncios comerciais desses produtos nas emissoras de rádio e televisão são somente permitidos entre 21h e 6h. O problema é que, como lembram Alan e colegas, apenas bebidas com teor de álcool acima de 13 graus são consideradas alcoólicas, de modo que as cervejas e vinhos não se enquadram nas mesmas regras de publicidade que a vodca e o uísque, por exemplo.
Fonte: Agência Notisa
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