Na Europa, menos cerveja é mais recessão

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O consumo de cerveja em declínio pode estar contribuindo para a crise da dívida na Europa – pelo menos de acordo com um estudo encomendado por quem a produz.

A conclusão não é tão absurda que possa parecer. Os europeus estão poupando dinheiro e bebendo em casa ao invés de irem aos pubs, o que está causando desemprego na indústria do turismo, de acordo com o estudo realizado pela auditora Ernst & Young, o qual foi pago pelo grupo Brewers of Europe. A mudança para o consumo doméstico tem um efeito brutal sobre o desemprego porque, na Europa, 73% dos postos de trabalho relacionados à indústria cervejeira estão em bares, hotéis e restaurantes.

Já o consumo de cerveja na Europa caiu 8% de 2008 a 2010, período coberto pelo estudo. Acompanhando a derrocada, a taxa de emprego na indústria da cerveja caiu 12%, o que corresponde a 260 mil empregos. Na Europa como um todo, no mesmo período, a taxa de emprego caiu 2%.

Perdas de empregos podem agravar a crise da dívida, porque as pessoas desempregadas usualmente recebem benefícios e não pagam impostos. Quando diminui o consumo de cerveja, os governos também recolhem menos impostos sobre a venda da bebida.

Cerveja de grego

A Grécia tem sido um dos países mais atingidos pela recessão cervejeira. O consumo anual per capita caiu de 41 para 36 litros entre 2008 e2010, enquanto o emprego na indústria de cerveja caiu 15%.

A indústria da cerveja reclama que parte do declínio é devido ao aumento acentuado no valor agregado dos impostos que incide sobre a bebida praticado por alguns países, incluindo a Grécia. Pierre-Olivier Bergeron, secretário-geral da Brewers of Europe, afirma que tais aumentos são contraproducentes, porque empurrar para baixo o consumo gera cortes de empregos, resultando em diminuição da receita.

Microcervejarias salvarão a pátria

Mas nem tudo são más notícias para as cervejarias. Bergeron disse que viu sinais de que pode estar chegando ao fim o declínio do consumo de cerveja na Europa, que ainda foi impulsionado em parte por questões de saúde e punições mais duras para quem dirigir embriagado. A proliferação de microcervejarias significa que estão sendo oferecidas os bebedores de cerveja mais personalidade e variedade e local. O que um dia fez o vinho atraente, hoje também atrai para as cervejas os jovens e os consumidores mais abastados. Quando Bergeron juntou-se à organização Brewers of Europe, há uma década, disse ele, havia apenas 14 membros de seu país de origem, a França. Hoje, existem 80, a maioria novos operadores de pequenas cervejarias.

O secretário-geral ainda está cautelosamente otimista. Ele acha que o consumo de cerveja pode subir novamente, com os consumidores optando por beber cerveja com as refeições, ao invés do vinho, mais caro. ”Quando as pessoas olharem para a lista de preços dos vinhos, elas vão decidir ficar com a cerveja, disse Bergeron disse. ”A próxima década vai ser interessante.”

Fonte: The New York Times


Comments

2 responses to “Na Europa, menos cerveja é mais recessão”

  1. Antonio Mendes Avatar
    Antonio Mendes

    Bem, talvez a manchete mais apropriada para essa matéria do NYT seria: “Na Europa, mais recessão menos cerveja” e não como foi colocado, enfim…

    Antonio Mendes.

  2. Bruno Moreno Avatar
    Bruno Moreno

    Concordo com o Antonio. E acho muito difícil ocorrer o que o Bergeron espera, a cerveja, estatisticamente comprovado inclusive para as macro, é um bem normal não um bem inferior, ou seja aumenta o consumo de acordo com a renda. Ele cometeu um erro básico, acreditou que o consumo se da pelo preço nominal, mas na verdade ele se da pelo preço relativo. Ou seja, nos ´países que culturalmente consomem vinho a cerveja ganharia espaço significante apenas se o vinho ficasse relativamente mais caro do que a cerveja, mas mesmo assim é difícil acreditar nisso, pois é possível que a renda utilizada na cerveja passe a ser utuilizada no vinho para compensar essa disparidade.

    Tudo depende das prefrências, em países como o Brasil isso poderia ser diferente, mas sinceramente acho ingenuidade acreditar, memo no brasil onde as preferências não são tão estabelecidas como na Europa, que uma redução da renda elevaria o consumo de cervejas especiais a chance de ocorrer o contrário é infinitamente maior.

    Achei esse estudo um pouco viesado, já que esquece que a crise está em todos os setores, inclusive é mais intensa em alguns que empregam mais e são mais importantes. Eu sou um grande apreciador de cerveja e é a única bebida alcoólica que consumo, porém acho que em situações como essa devemos deixar a paixão de lado e pensar racionalmente. Diminuir a tributação em uma crise de dívida é o mesmo de pedir pra diminuir o nosso salário quando estamos endividados, ou seja é um caminho rápido e certeiro para o colapso.

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