O dia 12 de Outubro, neste ano, caiu numa segunda-feita. Ele foi a oportunidade ideal para eu fazer algo que já não fazia há tempos: Viajar! O cenário escolhido foi a paradisíaca Ilha do Cardoso, que representa a última fronteira do litoral sul paulista antes de chegar ao Paraná.
Por ser uma reserva ambiental, a ilha conta com uma infra-estrutura modesta, porém a hospitalidade dos caiçaras faz com que a gente se esqueça de alguns possíveis infortúnios de um lugar em que a luz elétrica vem de geradores ou fontes solares e os chuveiros têm aquecimento a gás (na verdade, pra quem gosta de “aventura”, isso acaba até sendo visto como um charme do local). Ainda assim, mesmo sendo modestas, as poucas pousadas da ilha estavam todas lotadas e eu consegui o último quarto disponível. Que sorte!
Pois bem. Viagem marcada, tudo combinado com a namorada. Na Sexta, saí até mais cedo do serviço pra poder chegar a tempo em Cananéia, de onde partem os barcos para a Ilha do Cardoso. Sim, pois não existe acesso rodoviário pra lá, o que torna a viagem ainda mais peculiar – e interessante.
Chegamos a Cananéia por volta das 16 horas e eu temia que as escunas que fazem o trajeto até a ilha não fossem mais partir naquele dia, afinal são mais 3 horas de viagem por entre o lagamar (misto de mar e rio, compondo uma espécie de “baía de dentro”).
Dito e feito, nada de escunas na Sexta. Tínhamos que arranjar uma solução alternativa e acabamos arranjando. Seria uma espécie de “carona” numa “voadeira” (tipo de barco mais veloz, com motor de popa, que comporta apenas seis pessoas, mas faz o trajeto em cerca de uma hora).
Único inconveniente: O preço… Enquanto a escuna sairia por R$40,00 por pessoa, ida e volta já inclusas, essa “carona” nos custaria R$120,00 somente a ida. Ou seja, um imprevisto orçamentário deste valor nos obrigou a sacar mais dinheiro. Mas quem disse que, na simples Cananéia, existe agência bancária? Exceto o Santander, nenhuma outra. Pois é, começou aí uma outra odisséia: Tentar encontrar um caixa eletrônico que estivesse funcionando, a fim de sacar o devido ao barqueiro.
Enfim, depois de uma hora e meia de tentativas, tínhamos finalmente o dinheiro em mãos, graças a uma Casa Lotérica. O tempo que teríamos pra conhecer Cananéia, antes do embarque para a Ilha do Cardoso, havia se consumido. A cerveja que eu pretendia ter tomado, tinha se esvaído. Mas eis que, dos céus, surge a minha recompensa.
Para minha surpresa, o barqueiro que nos levaria à ilha também daria outra carona (essa sem as aspas mesmo), para o seu tio e seu avô, moradores da ilha que retornavam de São Paulo.
Surgem então as duas figuras e o tio do rapaz, como que num ato de boas-vindas, aparece com uma sacola na mão. Dentro da sacola, quatro latinhas de cerveja, uma para cada tripulante da embarcação. Ele me oferece e eu, prontamente, aceitei e agradeci (estava com a garganta seca, estressado pelos contratempos e desanimado por não ter conseguido tomar uma cerveja ainda em Cananéia). Enquanto o barco “corria” nas águas e se perdia num maravilhoso cenário de reservas naturais, eu, com aquele balanço, tomava “a melhor cerveja do mundo”.
Era apenas uma humilde latinha de Antarctica, limitada e despretensiosa, mas o contexto ali fazia toda a diferença. Primeiro pelos contratempos. Segundo, pela paisagem sem igual. E terceiro, pela emoção de navegar na “voadeira”, que nos dá a sensação de estarmos numa espécie de “tapete voador”, quase que tocando a linha d’água. E assim, racionando os goles, bebi aquela linda latinha como se fosse a última ou, então, como se fosse a primeira.
Moral da história: Existem sim cervejas que fazem o contexto, mas também existem contextos que fazem uma cerveja. Minha “melhor cerveja do mundo” não veio de abadia, não veio de monastério. Mas veio num dia em que eu, já cansado, rumava num tapete mágico em direção ao paraíso!
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