A microcervejaria americana Dogfish Head, talvez a mais criativa do mundo, é famosa por elaborar cervejas “excêntricas”, pra dizer o mínimo. Este escriba já teve o prazer de experimentar algumas dessas deliciosas maluquices, como a hiperlupulada 120 Minute IPA, a Aprihop, que leva damascos em sua formulação, e várias outras.
Mantendo a tradição em inovação, já há algum tempo a micro também vem elaborando cervejas com inspiração em pesquisas arqueológicas, tomando como base antiquíssimas tradições cervejeiras. É o caso, por exemplo, da Midas Touch, projetada a partir de resquícios de ingredientes em recipientes encontrados nas escavações da tumba do rei Midas, morto há 3 mil anos.
Mas a nova breja dos caras, que leva entre seus ingredientes doses de saliva humana, leva ao paroxismo o termo exótica.
Batizada de Dogfish Head Chicha, a cerveja tem potência alcoólica de 6.2% ABV, sua coloração é roxa, o líquido é turvo e, segundo a cervejaria, é “seca, frutada, complexa e refrescante”. Foi elaborada a partir de tradições dos índios peruanos. Os ingredientes, de origem indígena, foram selecionados para dar maior autenticidade à breja: do Peru, vieram grãos de pimenta rosa, além do milho orgânico roxo. Completam a receita morangos americanos — ante a impossibilidade de importá-los do país sulamericano de forma que chegassem nos Estados Unidos em boas condições de conservação.
E onde a saliva entra na Chicha? Ao invés de deixarem germinar os grãos para a liberação do amido — processo conhecido como malteação — o milho roxo peruano é literalmente mastigado pelos cervejeiros, que com o produto da mascagem formam pequenos bolinhos que são achatados e postos para secar. As enzimas naturais contidas na saliva dos abnegados mastigadores agem como catalisadoras a ponto de quebrarem o amido do cereal em açúcares fermentáveis, que depois se transformarão em álcool e CO2, comuns em todas as cervejas.
O método, segundo os fabricantes, ainda é usado em algumas aldeias indígenas da América do Sul, inclusive no Brasil. De acordo com os cervejeiros, embora bizarro, é totalmente sanitário, não oferecendo nenhum risco à saúde. Isso porque os bolinhos mascados são colocados na etapa produtiva da fervura da breja, o que proporciona a eliminação de bactérias e demais microorganismos indesejáveis. Em tese, a Chicha, mesmo levando cuspe na fórmula, é mais higiênica do que as Lambic belgas, as quais são elaboradas com leveduras selvagens.
Todavia, os brasileiros não sentirão nem o cheiro da cerveja de saliva, a não ser que viagem a Milton, Delaware, onde a fábrica serve a breja somente em seu pub interno. A edição é limitada a poucos barris, e não há previsão para o envase, muito menos para exportação — e menos ainda pra cá.
Acompanhe no vídeo abaixo, apresentado pelo proprietário da Dogfish Head Sam Calagione, como é feita a Chicha.
Esta matéria foi redigida a partir da informação postada no nosso Fórum por Mauro Renzi Ferreira, usuário do BREJAS. Cadastre-se também e aproveite mais e melhor o que este portal tem a oferecer!
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