Mês retrasado redigi um artigo sobre o novo site da cerveja Xingu e toquei, de passagem, num tema secundário importante, e nele quero retornar agora: Cerveja escura é tudo igual? Ou seja, podemos dizer que todas elas são iguais às famosas Malzbiers? Muita gente acha que é, e aqui vamos tentar juntos desvendar a charada.
De início, cabe-nos definir a Malzbier. Em várias localidades da Alemanha, onde a variedade foi engendrada — e vejam que não se trata de um estilo de cerveja do BJCP — a Malzbier é oferecida às crianças. Embora a nós, brasileiros, a prática pareça chocante, eis que vivemos sob o jugo americano do politicamente correto, lembremos que os germânicos encaram a cerveja mais como alimento do que como bebida demoníaca e destruidora de caráteres, lares e reputações.
Mas há outra explicação, essa mais técnica. A Malzbier alemã (o termo deriva de malt beer, ou cerveja de malte) é geralmente enquadrada na categoria das brejas sem álcool, ou com uma concentração não maior do que 0,5% ABV. Tal se dá porque sua fermentação é feita em temperaturas muito baixas, quase ao ponto do congelamento. Nessa condição, as leveduras ficam “adormecidas”, embora haja açúcar de sobra a metabolizar no mosto cervejeiro. Após essa “micro” fermentação, a cerveja é filtrada e pasteurizada, eliminando as leveduras, que nem chegaram a trabalhar muito. O resultado é uma cerveja muito doce, e puxada aos maltes torrados das quais é feita.
No Brasil, porém, a coisa acabou acontecendo de uma maneira um pouco diferente. A Malzbier brasileira é, muitas vezes, produto com adição de flavorizante caramelo em um lote de brejas “pilsen” (ou, tecnicamente, standard american lager) que acabou ficando fora do padrão de fabricação, tudo para disfarçar as pequenas imperfeições e poder vender tranquilamente uma cerveja docinha aos incautos.
O que nos traz de volta à nossa boa e velha Xingu do post anterior. No paladar, a Xinguzinha até que apresenta um dulçor característico. Mas a sua peculiaridade principal não é o caramelo, e sim os maltes tostados que lhe fazem o caráter. A Xingu está enquadrada no estilo sweet stout, onde se encontram cervejas bastante doces, com predominância de maltes torrados que conferem sensações de chocolate e café.
A dobradinha baixo amargor e alto dulçor das cervejas do estilo sweet stout tem ultimamente agradado a muitos paladares femininos, antes adeptos da máxima “só gosto de Malzbier porque é docinha”. Já no público masculino, pra muita gente — incluindo este escriba — as cervejas escuras como a citada Xingu são ótimas opções para sair do comum em bares onde a variedade de cervejas é pequena. Pra outros, segue-se uma tendência, que é encarar as cervejas escuras como a breja pra iniciar as rodadas de ceveja.
Seja como for, as cervejas escuras mais elaboradas — leia-se as “não-Malzbier” — conquistam cada vez mais corações. Sinal dos tempos? Certamente, em se levando em consideração que o público cada vez se cansa mais das standard lagers levinhas de sempre, e está a buscar outras opções de aromas e sabores.
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