Cerveja “forte” X cerveja “fraca”

cervejafortexfraca

“Mas essa cerveja é forte, né”???

Nas beer evangelizações que sempre me lanço, seja no bar ou em aulas de cerveja que sou convidado a ministrar, essa pergunta é especialmente comum, particularmente quando seu autor é convidado a experimentar uma breja de coloração mais escura.

Pra começo de papo, vamos combinar: Sob pena de você ser considerado um nulo em matéria de brejas, jamais admita que uma cerveja seja classificada com simplismos. Assim, merecem banimento do nosso vocabulário cervejeiro termos como “cerveja forte”, “cerveja fraca”, ou mesmo “cerveja clara” e “cerveja escura” os quais, isolados, nem de longe se prestam a definir uma breja como se deve.

Frequentemente se associa uma cerveja de coloração mais escura à sua maior potência alcoólica. Daí, uma breja nessas condições ser considerada uma “cerveja forte” pelo degustador menos experiente. Acontece que essa percepção não é uma regra no vasto mundo dos estilos de cerveja.

Tome-se por exemplo o caso das cervejas de coloração acentuadamente escura cuja potência alcoólica é igual ou apenas um pouco maior do que uma breja do estilo pilsen, o que não as torna exatamente “fortes” — caso de Bamberg MünchenFalke Bier Ouro PretoEisenbahn Dunkel e muitas outras.

Contrário senso, veja-se o exemplo da deliciosa alemã Weihenstephaner Vitus. Trata-se de uma breja no estilo German Weizenbock, o mesmo de outras cervejas da estirpe de Schneider Aventinus, Erdinger Pikantusmuscles-1Eisenbahn Weizenbock. Estas três últimas possuem coloração escura, fazendo jus ao sufixo “bock”. Já a Vitus é clara, dourada. Nessa condição, esconde aos mais incautos sua graduação alcoólica de 7.7% ABV. Ou seja, a cerveja que, ao olhar “leigo”, parecia ser “fraca”, na verdade é “forte”. Sem falar da champegnoise DeuS, de coloração bastante clara e perigosíssimos 11,5% ABV.

Conceitos vagos como “forte” e “fraca” não exprimem a qualidade de uma cerveja. Ao contrário, servem para, em alguns casos, desestimular o novo degustador declaradamente inimigo de brejas menos ou mais alcoólicas ou de colorações diferentes daquela a que está habitualmente acustumado.

Assim, para apresentar cervejas especiais ao seu amigo que só toma pilsen, prefira termos mais corretos como “mais maltada” ou “mais lupulada” (ao invés de “mais amarga”, que costuma assustar também…). Desestimule preconceitos.

Faça-o compreender que, afinal, existem mais de 120 estilos de cervejas a serem experimentados, e que negar-se a essas novas experiências significa, em última análise, que ele não gosta de cerveja — e sim, de rótulo.

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Comments

9 responses to “Cerveja “forte” X cerveja “fraca””

  1. O que eu noto é que às vezes a pessoa diz “cerveja forte” no sentido de teor alcoólico, e outras vezes em relação a amargor. Então sempre que alguém pergunta se a cerveja é forte eu pergunto de volta se é forte em álcool ou em sabor.

  2. Marcio Rossi Avatar
    Marcio Rossi

    Acho que os termos (forte, fraco, claro, escuro) ao invés de banidos possam ser usados como ponto de partida para condução do iniciante na arte da degustação. Digo isso porque um amigo, apreciador, respondeu-me certa veze que não sabia avaliar. Respondi que ele e todo mundo sabe, é só aprofundar a partir de um ponto, que pode ser o fraco/forte, questionando-se em seguida sobre corpo, alcool, amargor, cor. Aí a pessoa começa a perceber que são coisas diferentes.

    A cor influencia muito a percepção. Acredito que a maioria das pessoas considere uma Skol, que tem 4,7% ABV, muuuito mais leve que uma Guinness Draught que tem 4,1%. Já escutei até de gente que efetivamente acredita se embriagar mais rápido com Guinness que com Skol. É o auto sugestionamento.

    Partindo do fraco/forte, com um pouco de orientação se conduz a avaliação.

  3. Maurício.

    Outro estereótipo que aparece de vez em quando é confundir alto amargor com alto teor alcoólico. Existem cervejas bastante amargas, como as pilsens tchecas, que não tem teor alcoólico elevado. Outras não tão amargas mas com teor alcoólico bastante alto.

  4. Marcio Rossi.

    Concordo contigo. Quando seu amigo falou que você “não sabe avaliar” na verdade o que acontecia era que lhe faltava a terminologia correta. Quando dominamos a terminologia, conseguimos ser mais precisos na avaliação. A partir daí uma pessoa que começa a degustar saberá dar nomes às impressões que começará a ter.

  5. Concordo com todos!
    Por sinal, quando disse que deveríamos “banir” termos como “forte” e “fraca”, me referi a essas palavras ISOLADAS no contexto da afirmação. Ou seja, o degustador iniciante não deve definir as brejas isoladamente como FORTES ou FRACAS.
    Mas concordo com o Marcio, de repente as palavras podem ser usadas como ponto de partida para beer evangelizar. É só tomar cuidado para não estereotipar as cervejas que se está degustando.
    Um abração.

  6. Sergio Riesenberg Avatar
    Sergio Riesenberg

    GOSTARIA DE ENVIAR ESSA MATERIA P/ UM AMIGO COMO FAÇO ?
    EXELENTE O ARTIGO.
    GRATO

  7. Sergio,
    Claro que pode, mas por enquanto terá de enviar a matéria pelo seu e-mail, copiando e colando o link correspondente. Já estamos trabalhando para implementar o aplicativo para o envio das matérias do BREJAS.
    Obrigado pelo elogio.
    Um abração.

  8. mauro ruellas Avatar
    mauro ruellas

    Tópico bem formulado e esclarecedor,vou compartilhar no facebook.

  9. Luiz Leão Avatar
    Luiz Leão

    Quando a cerveja é saborosa, o álcool ou amargor passam despercebidos. Vc reclama da cerveja muito alcoólica ou muito amarga se ela for ruim. No caso da Erdinger Pikantus (uma das minhas favoritas) o teor alcoólico é elevado porém imperceptível a nível de críticas nesse sentido.

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