Quantos de vocês nunca vivenciaram a experiência em que um amigo cervejeiro (homebrewer ou não) aparece todo empolgado, com sua última produção embaixo do braço pedindo pra você experimentá-la e dizer o que achou? Tal prática é algo bem comum no dia a dia dos que estão inseridos de alguma forma no meio cervejeiro. E isso é muito bom. Contudo, há outro fenômeno bem corriqueiro nesse cenário: os feedbacks demasiadamente positivos dos amigos. Geralmente eles cravam coisas do tipo : “Que obra de arte!”, “Mano, que cerveja foda”, “PQP! Que coisa linda…..”
Acontece que feedbacks como esses são dados muitas vezes para cervejas que não são, digamos, boas. E por que isso ocorre? Sabemos que a mentira faz parte da natureza humana e é algo difícil de ser administrado. Pois nós normalmente dizemos o que o próximo gostaria de ouvir e não o que realmente pensamos. Principalmente se este próximo for um amigo, conhecido ou alguém da turma dos “gente boa”. É por isso que você cervejeiro, recebe tantos elogios e o famoso tapinha nas costas quando alguém (com uma mínima bagagem no mundo da cerveja) bebe alguma de suas crias que eventualmente não mereça tantos aplausos.
Mas então, generalizando, eu estaria dizendo que os consumidores das artesanais deveriam ser adeptos da grosseria quando forem expor suas opiniões sobre determinada cerveja? De forma alguma. Penso apenas que eles deveriam ser transparentes com eles próprios e claro, com os cervejeiros/cervejarias em questão.
Falar a verdade ainda é uma virtude – por mais que no Brasil isso não pareça. É importante ressaltar que nos EUA um consumidor crítico e bem informado é visto como algo totalmente salutar para a cena cervejeira. Porém por aqui a coisa ainda é obscura. Críticas são encaradas por boa parte dos cervejeiros como algo ofensivo e pessoal. Infelizmente.
Por outro lado, também sabemos que cerveja artesanal no Brasil é algo muito novo e que consequentemente a grande maioria dos consumidores ainda não detém conhecimento e referencias para avaliar a qualidade de uma cerveja. Com isso, invariavelmente, situações como essa poderão acontecer:
Porém isso faz parte do jogo. Tratamos até aqui sobre o comportamento do consumidor. E quanto ao do cervejeiro? Este sem dúvida deveria ser o principal interessado em receber avaliações sinceras e embasadas sobre seus produtos. Mas como consegui-las? Para os caseiros, certamente as ACERVAs e seus concursos são caminhos que eu diria obrigatórios. Pois tem gente qualificada para trocar experiências e por conseqüência ajudar na melhoria de suas receitas. Além disso é fundamental que você como cervejeiro tome a iniciativa de coletar feedbacks do maior número de pessoas que puder. Principalmente daqueles que não fazem parte do seu círculo de amizades (pois como frisei lá em cima, seus “amigos” não te dirão a verdade).
E quanto aos cervejeiros comerciais? Bom, esses deveriam adotar a humildade como fator crucial para o seu negócio. Vamos imaginar e seguinte cenário: digamos que na produção de uma determinada cerveja, nada tenha escapado do “controle de qualidade” (vamos supor aqui que ele exista) da cervejaria e que esta determinada cerveja tenha sido elogiada pelos sommeliers mais famosos do mercado. Muito bem. Dessa forma a cervejaria teria que se preocupar somente com as vendas a partir desse momento, certo? Eu não diria isso. Penso que a cervejaria deveria acompanhar de perto o ciclo de vida de sua cerveja no mercado e naturalmente a aceitação dela pelos consumidores. E como fazer isso? Poderiam por exemplo utilizar ferramentas gratuitas como o ranking do BREJAS e Untappd nesta tarefa.
Apenas observo um detalhe importante: quando eventualmente receber uma nota ruim ou crítica mais dura, não a ignore. Pelo contrário, tente entender os motivos de tal reação. Resumindo: siga a bela postura da cervejaria Jota Beer e de algumas poucas outras (falando de Brasil) que já entenderam como funciona o jogo e saia da vala comum.
FiL CruX
Beer Sommelier ávido por cervejas *A+* . É também um apreciador de música extrema e colecionador de miniatura de carros da PSA.
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