Pelo menos o indício da prova fotográfica da história oktoberfesteira que contarei neste post está logo acima. Na imagem, constam os elementos de um “crime” prestes a ser cometido: O “criminoso” (o McFly de caneca na mão) e o objeto do crime (a chopeira da banda alemã).
Oktoberfest de 1992. Nossa antiga confraria etílica, os McFly, preferia permanecer a maioria do tempo no Galegão, um dos pavilhões da festa. E, dentro do Galegão, na arquibancada logo à esquerda do palco onde se spresentavam as bandas alemãs. Não havia motivo aparente na a escolha — ou ao menos eu jamais perguntei, ou não me lembro.
Naquela época (e não sei se ainda é assim), havia chopeiras exclusivas aos músicos em cada palco. E, por sua vez, os palcos eram separados do público por uma singela cancela, a qual servia mais para delimitar o espaço vital dos músicos do que pra tornar inexpugnável a área onde atuavam — a exemplo dos alambrados dos campos de futebol. Nessa condição, em tese, qualquer sujeito poderia pular a cancelinha e beber de graça. Poderia, mas não deveria.
Nosso companheiro McFly (não direi o nome dele, claro) decidiu transgredir a norma. Em que pese a dureza na qual andávamos naquela época, não foi por falta de grana. Valia apenas o prazer do proibido, o barato do perigo, a adrenalina da iminência de ser flagrado com o caneco onde não deveria. Avisado por nós ele foi, juro. Não aprovávamos a peraltice. Ia dar merda.
O McFly tentou a primeira vez. Com uma pernada de flamingo, facilmente invadiu o palco e, discretamente, encheu o caneco. Lógico que foi flagrado, mas o componente da banda que estava por ali foi compreensivo com a traquinagem e deixou passar, não sem uma simpática mas decidida recomendação: OK, daquela vez passava, mas por favor, não fizesse mais aquilo e coisa e tal.
Vitoriosamente o transgressor voltou ao nosso grupo. Talvez pela gentileza do componente, o McFly nos comunicou sua disposição de repetir a molecagem. Dessa vez, fomos mais categóricos: Se desse merda, não iríamos segurar a barra do confrade. Ele que se virasse, estava avisado. Ia dar merda.
Terminado seu chope, avizinhou-se novamente da chopeira proibida e repetiu a operação. Dessa vez, o componente deixou a simpatia de lado e por pouco não confisca o caneco do McFly, que, lépido, conseguiu pular de volta a cancela e misturar-se impune ao público. Nem deixamos que ele fosse visto conosco após o furto, pra não dar merda pra gente também.
O álcool faz misérias com o juízo e o McFly quis tentar a terceira vez, apostando na tática do ataque-e-fuga. Era demais pra gente, e resolvemos desbaratinar, ele que se danasse. Desbaratinamos mesmo e descemos a arquibancada, misturando-nos ao público.
Não deu cinco minutos, a banda pára de tocar e percebe-se uma agitação incomum no fundo do palco. Até hoje permanece vívida na lembrança a imagem do sujeito de tuba deixando o pesado instrumento no chão e correndo em direção à chopeira da banda, furibundo. Tinha dado merda.
Só ficamos sabendo o que tinha acontecido de fato, com detalhes, através do próprio McFly, cerca de uma hora depois do entrevero. Ele chega até nós, um olho meio roxo. Tinha apanhado da banda toda e fora expulso da festa. Deu um jeito, entrou de novo e agora estava ali, feliz.
Ressentimento? Nada! Exultante, ele nos comunica que teria uma história a contar aos netos: Tinha levado uma sova da banda na Oktoberfest. “Mas tomei o chope dos caras”, repetia. Então tá…
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