O ribeirófilo feliz: Thomas Hardy´s Ale safra 2005

O que o leitor vê na imagem acima é uma lenda das cervejas. Todas as garrafas são safradas e — charme dos charmes — numeradas uma a uma. Inglesa, o estilo é o barley wine. Os apreciadores, porém, costumam definir esta e outras poucas brejas como vintage ales, uma categoria de cerveja dentro da qual as amostras podem ser guardadas por vários anos, a ressaltar algumas de suas características sensoriais. Nobres leitores, apresento-lhes a Thomas Hardy’s Ale. E a que este escriba teve a honra de provar foi precisamente a breja de número P70478, da safra de 2005.O local da degustação foi o excelente bar Cervejarium, em Ribeirão Preto, cujo proprietário é o dono da Cervejaria Colorado, o amigo Marcelo Carneiro da Rocha. E foi ele mesmo quem nos presenteou com um baldinho cheio de gelo e das raridades, que ele guardava na adega. Tudo depois de uma visita à Colorado, sobre a qual falarei num post ainda nesta semana, fechando a série Ribeirófilo.Produzida desde 1968 pela O´Hanlon´s Brewing Co., a breja é maturada durante nove meses em barris de Xerez. A própria cervejaria, durante os anos 80, estimulou a guarda da breja, colocando nos rótulos a inscrição “Não beba ainda”, o que fez com que os apreciadores colecionassem seus exemplares para vendê-los anos depois a preços exorbitantes, prática que até hoje ainda persiste. Diz-se que pode ser guardada por períodos superiores a nada menos que 25 anos, cada dia dos quais se tornando ainda mais complexa.Elegante, rara e sutil, a Thomas Hardy’s Ale 2005 é o equivalente cervejeiro à sofisticação dos melhores conhaques. De coloração ocre-escura, a breja quase não apresenta espuma. Encostando o copo no nariz se tem a dimensão da sua nobreza, numa verdadeira festa de aromas. Percebem-se madeira de carvalho, vinho do Porto, ameixas e uma pitada de anis. No sabor, os aromas se completam com a presença do malte torrado, nozes e amêndoas. O álcool (11,7%) é absolutamente bem inserido.Ladino como só ele, o Marcelo trouxe também, para comparação, a Thomas Hardy´s Ale 2007 que, inclusive, é vendida hoje no próprio Cervejarium e no Empório Biergarten. Só então, com as duas brejas, uma em cada copo, pudemos perceber a real dimensão da complexidade que a guarda da cerveja pôde proporcionar. A mais jovem, embora igualmente fantástica, tinha menos cor, turbidez, corpo e as notas amadeiradas e vinificadas da mais “coroa”. De impressionar.A Thomas Hardy´s Ale 2005 já deixou de ser vendida há tempos, e apenas poucos e bons colecionadores a possuem. Mas sempre há possibilidades. Faça como eu: Compre uma (ou várias) da safra de 2007 agora e espere até 2010 para degustá-la. Sim, eu sei que é difícil. Basta manter a garrafa longe de crianças, animais domésticos e, principalmente, de você mesmo.