Concursos de cerveja: Criem-se menos e melhores!

Medalha Lata

No crescente mercado cervejeiro brasileiro, muito se tem falado — e, por vezes, criticado — a respeito da profusão de cursos sobre cerveja, cada vez mais numerosos. Sobre eles, minha opinião já foi exposta aqui neste Blog. Num universo de quase 130 milhões de pessoas em idade legal de consumir cerveja no Brasil, há amplo espaço para a criação de cursos sérios para a boa educação cervejeira, estimulando mais e mais pessoas a consumirem menos e melhor, ajudando a criar hábitos cada vez mais saudáveis de consumo.

Seja sobre cerveja, tricô, ioga ou qualquer outro curso, um mandamento pétreo não foge à lógica e ao senso comum: É necessário que o matriculando se informe previamente sobre o histórico, qualificações e currículos de quem o ministra, sua metodologia, conteúdo programático, reputação no mercado no qual está inserido e demais informações básicas antes de inscrever-se, gastar dinheiro com picaretagem e, literalmente, pagar mico. De mais a mais, é de posse dessas informações que se esvaziam cursos fajutos, desmascarando espertalhões e realizando uma espécie de regulação do mercado, no qual somente os cursos com excelência comprovada sobrevivem.

Concursos obscuros e inexpressivos

Com a mesma velocidade que cervejas e cursos são oferecidos ao público brasileiro, porém, há outra categoria que ameaça avançar nessa seara: A profusão de concursos de cerveja. Ainda não há muitos, é certo, mas a tentação de criá-los não passa despercebida. Alguns, embora obscuros, já foram criados, e tentam emplacar no mercado abduzindo industriais incautos. Outros ainda estão em gênese na cabeça de oportunistas, prontos pra ser instrumentalizados ao sabor das vaidades pessoais e, sobretudo, dos patrocínios.

A diferença entre a multiplicação de cursos e concursos cervejeiros, entretanto, não obedece a mesma lógica. Enquanto os cursos requerem do consumidor apenas um pouco de cuidado e pesquisa, os concursos são apresentados ao grande público em forma de vistosas medalhas impressas nos rótulos das cervejas. Ao vislumbrar na gôndola uma cerveja com uma medalha, qualquer que seja, o consumidor não inserido nos meandros na, por assim dizer, “política” cervejeira brasileira, entenderá que está adquirindo uma cerveja “premiada”, e via de consequência, de excelência testada e aprovada. Basta uma medalhinha e pimba!, as vendas aumentam.

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Essa prática alimenta de forma simbiótica — e deletéria — tanto organizadores de concursos picaretas quanto cervejeiros ingênuos ou mal-intencionados. Além disso, ameaçam outros concursos sérios a caírem nas mesmas valas comuns da desconfiança e da confusão.

Competições cervejeiras deveriam seguir a mesma lógica da cultura da cerveja: menos e melhores. Quanto mais concursos há, menos peso possuem, sendo o inverso absolutamente verdadeiro.

Como escapar das ciladas

Ao empresário, o mandamento empregado aos cursos cervejeiros é parecido: Pesquisa! Antes de inscrever suas cervejas em competições oportunistas e caça-níqueis, avalie quem são os organizadores do concurso, seus históricos, suas reputações. Questione quem serão os jurados e, de posse da listinha, faça a mesma pesquisa sobre eles (a internet está aí pra isso!). Entenda como será a metodologia empregada nas avaliações (todas as cervejas devem ser avaliadas em testes-cegos!). Cheque a forma de premiação.

Concursos de menos e mais sérios farão com que o mercado cervejeiro brasileiro — e, por conseguinte, latino-americano — cresça com mais seriedade e seja mais visível aos olhos do mercado mundial, abrindo caminhos e consolidando justas reputações.

Poucas medalhas significam muito. Muitas medalhas significam quase nada.