O texto abaixo é obra de Alexandre Bazzo, cervejeiro da Cervejaria Bamberg, uma das maiores estrelas da revolução cervejeira nacional. Ele fala da dificuldade de se aprovar receitas junto ao Ministério da Agricultura (MAPA), assunto que rendeu neste espaço os artigos As cervejas que nunca serão e As cervejas que nunca serão – A voz dos proscritos. Os títulos deste e dos dois outros artigos referem-se ao chavão do personagem Capitão Nascimento, no filme Tropa de Elite, ao responder às pretensões dos recrutas de sua divisão: “Nunca serão”!!!
Importadas podem, nacionais nunca serão!
Todos tem acompanhado a grande dificuldade que as microcervejarias no Brasil vêm tendo em registrar novas cervejas no Ministério da Agricultura. Conosco, na Cervejaria Bamberg, não seria diferente. Temos oito novas cervejas paradas lá, algumas há mais de 1 ano (n.e.: uma delas, a Weizenbock cuja reprodução do rótulo encabeça este artigo).
Mas por que existem no mercado cervejas importadas Vintage, ESB, Chocolate Stout, Fruit Beer, Wit (que contém especiarias e laranja), dentre outras, sendo que as cervejarias nacionais não lançam este tipo de produto? É falta de competência de nossos cervejeiros?
O país das maravilhas
Pois é, no Brasil das maravilhas temos dois países, o do jeitinho e o da lei rigorosa que deve ser cumprida a qualquer custo. E é assim na cerveja; existe um jeitinho pra aprovar cervejas importadas, uma brecha na legislação e na
fiscalização. Já para as nacionais não há brecha, pelo que o rigor da lei deve ser cumprido.
Não culpo os fiscais do Ministério, eles realmente devem seguir o que está escrito na lei, uma legislação que foi feita para um mundo cervejeiro onde existia apenas uma cerveja, aquela que se parece mais com água amarela gaseificada. Tudo evoluiu desde então, mas a legislação é a mesma. Por isso, pra ela, nós, cervejeiros artesanais, não existimos.
Também não culpo o importador, pois todas as cervejas importadas estão legalizadas, de forma lícita, e é seguindo a legislação eles conseguem entrar no Brasil com cervejas que nós não podemos produzir.
Eis a questão, como fazer pra termos igualdade?
Legislação injusta
Temos que mudar a legislação, adequá-la com a realidade do mundo cervejeiro atual. Mas isso interessa a quem? É claro que interessa a nós produtores, consumidores e afins de cervejas de qualidade, ou seja, uma parcela minúscula da população, sem poder pra pagar lobistas e financiar campanhas políticas.
Daí se conclui que a legislação brasileira decretou a morte da cerveja artesanal de qualidade no Brasil. É apenas uma questão de tempo. Não dá pra inovar, não dá pra trazer a tradição de estilos milenares, não dá pra fazer cerveja boa.
Com isso, perderemos um nicho de mercado que gera empregos e paga impostos em maior quantidade por hectolitro que as cervejas comerciais, sem falar que fomentamos o turismo local, trazendo estrangeiros e brasileiros para a nossa região. Fazemos com que o Brasil seja motivo de notícia boa no exterior quando ganhamos um prêmio internacional. Pregamos o consumo moderado de álcool, com o lema “beba menos e melhor”.
Este é o cenário das cervejas de qualidade no Brasil. Mas você pode estar pensando, ninguém tá reclamando disso! Sim, poucos reclamam, pois poucos têm interesse em fazer cerveja boa. Tá bom assim pra maioria…
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