A breja belga Westvleteren Abt 12 é considerada pela maioria dos rankings cervejeiros do planeta (incluindo o Ranking do BREJAS) como a melhor cerveja do mundo. E, se de fato não for, pelo menos é uma das mais raras. Os monges da Ordem Trapista que a produzem o fazem em levas extremamente limitadas, daí a aura mítica que a cerca.Conseguir um exemplar, mesmo na Bélgica, não é tarefa das mais fáceis.
É sabido que os religiosos, que fazem voto de pobreza, produzem essas maravilhas apenas quando realmente necessitam de verbas para a manutenção da Abadia de St. Sixtus, função única da produção. Nessa condição, não há regularidade temporal entre uma brassagem e outra. O que deixa algumas dúvidas a pairar: Existem diferenças sensoriais entre um lote mais antigo em relação a um lote mais “novo”? A Westvleteren Abt 12 evolui com a guarda?
Kathia Zanatta é beer sommelier. Alfredo Ferreira é mestre cervejeiro. Ambos são formados na Doemens Academy (Alemanha), e trabalham atualmente para o Grupo Schincariol. Recém-chegados de uma viagem que fizeram à Bélgica, conseguiram por lá uma garrafinha da breja. Eu já tinha outra descansando na adega, conquistada há exatamente um ano. Dúvidas postas, à prova: marcamos uma degustação dos dois diferentes lotes, frente a frente, na última sexta feira (29/05). O palco foi o Bar do Italiano, em Campinas. A sorte estava lançada.
Para inaugurar os trabalhos, antes do confronto, abrimos uma Westvleteren Extra 8, menos alcoólica (8% ABV) mas com quase a mesma complexidade da 12, que preparou nossos paladares para a comparação que viria a seguir. Após, vieram as melhores do mundo.
Em ambos os exemplares, estava tudo lá: A extrema complexidade, o amadeirado, as ameixas, as frutas secas, a sugestão de Porto. E as notas torradas, caramelizadas e achocolatadas. E o pungente lúpulo que harmoniza magicamente com o doce. E o final carinhosamente amargo que faz cair lágrimas furtivas. E tudo o mais que se pode dizer de uma breja extremamente balanceada, nobre, personalíssima. Quem ainda não experimentou pode achar deslumbre, mas a alma que já teve esse privilégio sempre concorda comigo: Não se pode ficar indiferente a uma Westvleteren Abt 12.
Diferenças entre os dois lotes? Kathia, Alfredo e eu temos de ser honestos: Se há, não sentimos. Restou, entretanto, outra prova. Concluímos que a temperatura mais adequada para se degustar a breja é em torno de 10 a 15 graus Celsius. A partir desse patamar, o álcool (10,2% ABV), que se inseria perfeitamente no set a ponto de quase não se fazer sentir, volatiza-se e aparece com mais potência tanto no aroma quanto no sabor, o que desbalanceia levemente o conjunto.
Feito o teste, passamos a divagar sobre o paradoxo que faz a melhor cerveja do mundo ainda ser tão rara. Em pleno capitalismo globalizado do século XXI, a incensada Westvleteren ABT 12 — que podia ser vendida a preços estratosféricos — é comercializada na Abadia de St. Sixtus ao inacreditável preço de 1,50 euro.
Basta ao interessado, estando na Bélgica, enfrentar pacientemente a interminável fila de veículos que se forma à frente da cervejaria do templo, toda vez que os monges cismam em fabricá-la pra fazer a graninha das hóstias…
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