O bar mais antigo da América

 

Mesmo o leitor mais jovem certamente já assistiu a algum filme de faroeste americano, daquele tipo que o John Wayne entra num saloon todo de madeira, empoeirado e de frequência duvidosa. No McSorley´s Old Ale House está tudinho lá (exceto a frequência duvidosa): madeira do chão ao teto, serragem eterna pelo piso, balcão caindo de podre e um garçom de avental branco pronto a ouvir, esfregando o paninho numa caneca, as notícias do assalto à última diligência. Uma verdadeira máquina do tempo.

Embora estejamos na terra dos parques temáticos, aqui é tudo real. O bar foi fundado em 1854 por Jonh McSorley, um imigrante irlandês, e é considerado o mais antigo dos Estados Unidos ainda em funcionamento. Todo mundo já bebeu lá, de Abraham Lincoln a John Lennon. Tem como lema a frase “Be good or be gone”, algo como “fique numa boa ou dê o fora”, em tradução livre.

Mulheres que visitam hoje o McSorley´s têm de dividir com os homens o único banheiro existente. Isso por um motivo no mínimo curioso: Até 1970, a entrada do sexo feminino era terminantemente proibida. O bar se orgulhava de ser um reduto da cuecagem, onde os marmanjos iam refugiar-se das esposas, livres do perigo de alguma delas resolver ir buscá-los lá empunhando o rolo de macarrão.

Em 1910, Jonh McSorley morreu lá mesmo, no segundo andar do imóvel, onde morava. Após anos de administração, em 1936 seu filho vendeu o bar para um certo Daniel O´Connor, que por sua vez faleceu em 1939, tendo como única herdeira sua filha, Dorothy.

Os clientes mais assíduos temeram que, com a administração feminina, o McSorley´s perdesse suas tradições, ou, pior, que a nova proprietária autorizasse a entrada de mulheres. Não sabiam que Dorothy, meses antes, houvera prometido ao pai em seu leito de morte que manteria o costume e ficaria fora do estabelecimento. Contentou-se em ser a proprietária, fazendo as contas no andar de cima, longe da vista dos clientes, enquanto seu marido Harry dava expediente como gerente da casa. Dorothy só visitava seu próprio bar aos domingos, depois que o último empedernido cliente resolvesse ir embora enfrentar, enfim, o rolo de macarrão.

A proibição só caiu por terra em 1970, após uma longa batalha judicial. Danny Kirwan, filho de Dorothy e então administrador do bar (no lugar do pai, que se aposentara), quis que sua mãe, já idosa, tivesse a honra de ser a primeira mulher a ser servida no velho balcão do McSorley´s. Dorothy recusa a deferência, invocando a promessa que fizera muitos anos antes ao pai. Ela mantém sua palavra até morrer, em 1974.

No McSorley´s não há carta de cervejas. Disponíveis, apenas as brejas que levam o nome do pub: McSorley´s Ale (no estilo pale ale) e McSorley´s Black and Tan (no estilo sweet stout), ambas servidas on tap, carecedoras de maiores complexidades, mas ideais pra tomar em pé curtindo o ambiente centenário e fingindo por alguns momentos ser Clint Eastwood.

Foi sentado numa de suas mesas de tábuas que, em 1925, o escritor E. E. Cummings escreveu o poema “I was sitting in McSorley´s”. Pra entrar no clima, após assistir ao filme deste post, leia algumas estrofes da obra:

I was sitting in mcsorley’s. outside it was New York and beautifully snowing.

Inside snug and evil. the slobbering walls filthily push witless creases of screaming warmth chuck pillows are noise funnily swallows swallowing revolvingly pompous a the swallowed mottle with smooth or a but of rapidly goes gobs the and of flecks of and a chatter sobbings intersect with which distinct disks of graceful oath, upsoarings the break on ceiling-flatness

the Bar.tinking luscious jigs dint of ripe silver with warm-lyish wetflat splurging smells waltz the glush of squirting taps plus slush of foam knocked off and a faint piddle-of-drops she says I ploc spittle what the lands thaz me kid in no sir hopping sawdust you kiddo

he’s a palping wreaths of badly Yep cigars who jim him why gluey grins topple together eyes pout gestures stickily point made glints squinting who’s a wink bum-nothing and money fuzzily mouths take big wobbly foot

steps every goggle cent of it get out ears dribbles soft right old feller belch the chap hic summore eh chuckles skulch. . . .

and I was sitting in the din thinking drinking the ale, which never lets you grow old blinking at the low ceiling my being pleasantly was punctuated by the always retchings of a worthless lamp.

when With a minute terrif iceffort one dirty squeal of soiling light yanKing from bushy obscurity a bald greenish foetal head established It suddenly upon the huge neck around whose unwashed sonorous muscle the filth of a collar hung gently.

(spattered)by this instant of semiluminous nausea A vast wordless nondescript genie of trunk trickled firmly in to one exactly-mutilated ghost of a chair,

a;domeshaped interval of complete plasticity,shoulders, sprouted the extraordinary arms through an angle of ridiculous velocity commenting upon an unclean table.and, whose distended immense Both paws slowly loved a dinted mug

gone Darkness it was so near to me,i ask of shadow won’t you have a drink?

(the eternal perpetual question)

Inside snugandevil.     i was sitting in mcsorley’s It,did not answer.

outside.(it was New York and beautifully, snowing. . . .

Em tempo: Este post é dedicado a Marco Falcone, proprietário da cervejaria Falke Bier, que deu a valiosíssima dica e possibilitou que este escriba visitasse o inacreditável McSorley´s Old Ale House.

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Comments

2 responses to “O bar mais antigo da América”

  1. Renato Vialto Avatar
    Renato Vialto

    Comentando alguns minutos apos conhecer pessoalmente Maurício Beltramelli e o mestre Afonso Landini (A Turma Cerveja Artesanal) juntamente com sua esposa e mais um confrade da turma do brejas, venho rapidamente ver em primeira mão esse maravilhoso vídeo. Ao ler sobre a historia de cerveja qual quer um da nossa trupe se sente nos primórdios, ate mesmo na arca de noé de onde vem, o primeiro vestígio de bebidas fermentadas. Mas ao ver um vídeo desses é realmente de se sentir no velho oeste, e a serragem no chão que eu achei que fosse força de expressão realmente está presente. Agora eh soh esperar para ver os comentários sobre as cervejas do pub.

  2. Maurício, muito obrigado pela homenagem, mas muito mais obrigado mesmo por seu fantástico relato, que transformou um velho reduto cervejeiro em um lugar mágico, como bem convém à cultura cervejeira. Parabéns e um abraço.

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