Bares em ruínas são a onda do momento na capital húngara
Tinha estado em Budapeste em 2004, apenas alguns anos após a cidade ter-se mostrado ao mundo emergida das trevas do domínio soviético. Naquele ano, a capital da Hungria, com seus letreiros indecifráveis, me pareceu muito mais misteriosa e fascinante. Pra fazer ideia do quanto os húngaros ainda mantinham o ranço cartorial comunista, até pra entrar no país, de carro, tivemos que levar uma dura na fronteira, respondendo perguntas marciais e tendo o passaporte carimbado. Ao liberar os documentos e nos deixar passar, a policial nos lançou um olhar gélido e ameaçador, como a nos advertir mentalmente que estaria sempre de olho na gente. Um barato.
Retornei em 2011, e um tanto daquela ingênua Budapeste tinha se esvaído em contato com o Ocidente. Muitos letreiros já eram bilíngues a livrar o visitante do antes exclusivo e ininteligível húngaro, o idioma “que até o diabo tem medo”. E os bares já não serviam somente a cerveja local — o que, convenhamos, não significa exatamente uma desgraça. Mas se, no cômputo geral, as brejas húngaras não são lá essas coisas, vamos aos bares!
Jardins botequeiros
A grande sacada do momento em Budapeste são os kerts, termo local que quer dizer jardim. Funciona assim: Casas abandonadas no centro da cidade são “arrendadas” gratuitamente na prefeitura da cidade por “produtores culturais”. O que seria uma forma da municipalidade evitar que essas antigas habitações se transformem em cortiços — de quebra oferecendo cultura aos cidadãos–, na prática, transforma-se em bom negócio aos “produtores”, que ali montam seus bares pagando zero de aluguel. Cultura? Há sim, pra não dizer que não falei das rosas. Talvez uma sessão esporádica de cinema ou um show acústico às vezes. Mas o que a rapaziada de Budapeste curte mesmo é o clima botecão, com certa dose de descolamento e, vá lá, aventura.
Visitei três dos mais badalados kerts da cidade, o Szimpla (Kazinczy utca, 14), o Fogasház (Akágfa utca, 51) e o Inztant (Nagymezö utca, 38). Em todos eles, mais ou menos os mesmos elementos: jeitão de república de universitários, cadeiras, sofás e mesas desparceiradas e com cara de lixão, salinhas labirínticas, cabos elétricos pendurados, DJ tatuado a postos e diversão descolada. Tudo acontecendo em meio a ruínas que parecem que vão despencar na sua cabeça a qualquer instante.
Parece inacreditável? Dá uma conferida nas fotos abaixo:
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